Somando-se os projetos da Aracruz, da Stora Enso e da Votorantim, cerca
de 300 mil hectares serão tomados pela monocultura do eucalipto no Rio
Grande do Sul, valor que corresponde a quase 3% de todo o território do
Estado. A ausência de licenciamento ambiental preocupa o Ministério
Público.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul pediu explicações para a
empresa finlandesa Stora Enso, que já teria adquirido, direta ou
indiretamente, mais de 100 mil hectares de dezenas de médios
proprietários no Estado. Assim, a Stora Enso teria concentrado, em um só
ano, mais terras do que todas as desapropriações que o Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) fez no RS, nos últimos
vinte anos.
As áreas adquiridas pela empresa são destinadas à ampliação da
monocultura do eucalipto para a produção de celulose. O MP está
preocupado com os possíveis impactos ambientais dessa ampliação, uma vez
que não existe licenciamento por parte do Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente (Ibama) para esse projeto de ampliação. A maior parte das áreas
adquiridas pela Stora Enso estão localizadas em uma faixa de 50
quilômetros, próxima à fronteira com Uruguai e Argentina.
Segundo a legislação brasileira, empresas estrangeiras não podem ter
propriedades nesta faixa de fronteira. As empresas produtoras de
eucalipto defendem a redução desta faixa de segurança para uma margem de
apenas 10 quilômetros. A Stora Enso desembarcou no Rio Grande do Sul em
setembro de 2005, quando anunciou a intenção de implementar um ambicioso
projeto de monocultura de eucalipto em 100 mil hectares na região sul do
Estado, e de instalação de uma fábrica de celulose, totalizando
investimentos da ordem de US$ 1,2 bilhão. Segundo o projeto original, 50
mil hectares pertenceriam à empresa.
Somando-se aos projetos da Aracruz e da Votorantim, cerca de 300 mil
hectares serão tomados pela monocultura do eucalipto no Estado, valor
que corresponde a quase 3% de todo o território do RS. Em junho deste
ano, foi a vez da Aracruz anunciar investimentos da ordem de US$ 1,2
bilhão para a produção de eucalipto e celulose.
Previsões ambiciosas
Segundo estimativa da Associação Brasileira de Celulose e Papel
(Bracelpa), as exportações brasileiras de celulose devem crescer 10% em
2007, em comparação ao volume exportado em 2006. Dados preliminares da
entidade apontam uma produção de 11 milhões de toneladas de celulose em
2006, volume 6,3% superior ao verificado no ano passado. A Bracelpa
avalia que a previsão de investimentos de US$ 14,4 bilhões, no período
entre 2003 e 2012, deve ser superada.
A Votorantim e a Stora Enso estariam com seus investimentos atrasados no
Rio Grande do Sul em virtude da resistência de organizações
não-governamentais na área ambiental e do ritmo dos processos de
licenciamento ambiental. Nas últimas semanas, dirigentes da Stora Enso
manifestaram seu descontentamento com a série de obstáculos que estariam
sendo colocados para a implementação de seus projetos de expansão e
chegaram a falar sobre a possibilidade de mudança de planos.
A luta por corações e mentes
As indústrias de celulose estão investindo pesado na conquista de
corações e mentes no Rio Grande do Sul. O mais recente capítulo dessa
ofensiva foi o convite feito pela Stora Enso a um grupo de jornalistas
do Estado para visitar a sede da empresa na Finlândia. Integram a
comitiva, entre outros e outras: José Barrionuevo, Políbio Braga, Diego
Casagrande, Rogério Mendelski, Ana Amélia Lemos, Lucia Ritzel e Afonso
Ritter. A maioria dos jornalistas que integraram a comitiva produziu
relatos positivos sobre as atividades da empresa.
Um dos mais entusiasmados com o trabalho das empresas de celulose, o
jornalista Diego Casagrande escreveu em seu blog: ?Os investimentos, que
mudarão a face econômica da empobrecida Metade Sul, têm sido
bombardeados por ONGs e pela esquerda em geral, que falam a torto e a
direito na criação de desertos verdes. São mentiras e bobagens que
repetidas, podem virar verdade na cabeça de muita gente?.
Na campanha eleitoral, as empresas de celulose também ajudaram a
financiar campanhas de dezenas de deputados. Ao todo, Aracruz, Stora
Enso e Votorantim doaram cerca de R$ 1,360 milhão para 75 candidatos a
deputado e governador na última eleição. Segundo informações da Tribunal
Superior Eleitoral, a Aracruz lidera a lista de doações. Foram mais de
R$ 900 mil doados a campanhas de deputados estaduais e federais.
Entre os candidatos que receberam dinheiro da Aracruz, 21 elegeram-se
deputados estaduais (do PP, PMDB, PSDB, PPS, PT e PDT) e 14 deputados
federais (do PSB, PFL, PDT, PMDB, PSDB e PP). A Votorantim destinou R$
348 mil para campanhas eleitorais no RS e a Stora Enso, R$ 103 mil. Uma
das campeãs de doações em todo o país, a Aracruz divulgou nota oficial
afirmando que as doações são uma ?contribuição ao amadurecimento do
processo democrático?.
(Por Marco Aurélio Weissheimer,
Agência Carta Maior,06/12/2006)