Livro traz à tona tesouro genético submerso pelo Lago de Tucuruí
2006-12-07
Conciliando beleza gráfica e apuro científico, mais de vinte anos de estudos sobre a riqueza genética da área natural alagada após o fechamento da comportas da hidrelétrica de Tucuruí estão reemergindo sob a forma de uma feliz publicação feita em parceria entre a Eletronorte (Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A) e pesquisadores paraenses.
O livro "Ilha de Germoplasma de Tucuruí - Uma Reserva de Biodiversidade para o Futuro" (Eletronorte, 2005, 232 páginas) foi lançado ontem (6/12).
De autoria dos pesquisadores Ima Célia Vieira, diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG/MCT), Noemi Vianna Martins Leão, Selma Toyoko Ohashi e Rubens Ghilardi Jr., da Embrapa Amazônia Oriental e Universidade Federal Rural da Amazônia, a edição reúne os resultados de pesquisas de campo e da experiência de conservação de material genético que já duram mais de 20 anos na Ilha de Germoplasma, área natural remanescente do lago de Tucuruí.
Mas não é só: além de reunir trechos de narrativas orais locais registradas pelo projeto Infopap - "O Imaginário nas Formas Narrativas Orais Populares da Amazônia", da UFPA -, o trabalho também conta com arte gráfica apurada e belas ilustrações científicas - aquarelas -, retratando as espécies vegetais naturais da região.
Bancos
Estima-se que hoje existam 287 bancos de germoplasma no mundo todo. Destes, 177 estão no Brasil (só São Paulo soma 89). Bancos de germoplasma servem para conservar material genético para uso imediato ou com potencial para uso futuro. Esses bancos podem ser classificados como "bancos de base" ou em "bancos ativos". Os primeiros conservam conserva germoplasma em câmaras frias, in vitro ou em criopreservação. Os "ativos" são aqueles onde pode-se germoplasma através de plantios freqüentes para caracterização e análise. Os bancos de germoplasma ativos in vivo podem ser classificados como in situ - com germoplasma mantido no seu habitat natural - e ex situ, mantidos fora do seu ambiente original.
A Ilha de Germoplasma do Lago da hidrelétrica de Tucuruí - surgido após 1984, com o fechamento das comportas das corredeiras do rio Tocantins -, é uma tentativa de preservar o patrimônio genético dos mais de 2.800 km² de áreas que foram submersas com centenas de espécies vegetais e animais.
A área de reserva de 129 hectares é fruto de uma parceria inicial travada entre a Eletronorte e o Instituto de Pesquisa da Amazônia (Inpa). Lá estão dois bancos de material genético: um é composto pela própria porção de floresta nativa remanescente dentro da represa (in situ), enquanto outro (ex situ), manejado na outra porção da ilha, é o resultado da coleta e plantio de sementes oriundas de toda a área hoje alagada de Tucuruí.
No banco in situ da Ilha de Germoplasma de Tucuruí, os trabalhos de campo traçam análises sobre 221 espécies de árvores remanescentes do alagamento e pertencentes a 50 famílias. Outro dos grandes objetivos dos estudos é definir o quanto da riqueza gênica foi preservada entre de 81 espécies cujas sementes foram coletadas nesses 20 anos de estratégia de conservação. Para especialistas em Genética, como o Dr. Giancarlo Conde Xavier Oliveira, dados como esses podem sugerir mudanças em estratégias futuras de conservação para a Amazônia.
(Por Lázaro Magalhães, Agência MCT, 06/12/2006)
http://agenciact.mct.gov.br/index.php/content/view/42503.html