Elo de Brasil e vizinhos pode salvar peixes
2006-12-07
Pesquisadores do Brasil, do Peru e da Colômbia estão discutindo esta semana a adoção de um plano de manejo conjunto dos recursos pesqueiros da região — uma iniciativa que consideram essencial para preservar os peixes da várzea amazônica. Só a parcela brasileira dessa região ocupa 300 mil quilômetros quadrados (uma área maior que o Rio Grande do Sul) ao longo da calha dos rios Amazonas e Solimões e abriga 1,1 milhão de habitantes.
“É preciso ampliar a parceria com outros países, especialmente no que se refere aos recursos pesqueiros migratórios. Os peixes, na época de reprodução, sobem os rios Amazonas e Solimões e desovam na Colômbia e no Peru. Depois, suas larvas descem e vão para o estuário [no Brasil], para se alimentar e crescer. Na época da reprodução, vão novamente”, conta Mauro Luis Ruffino, coordenador do Provárzea (Projeto Manejo dos Recursos Naturais de Várzea), executado pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), em parceria com o PNUD.
A preservação dos peixes é fundamental para os moradores da região. A pesca é uma das principais atividades econômicas da área e movimenta, na parte brasileira, US$ 100 milhões por ano, em uma produção de cerca de 100 mil toneladas, e emprega cerca de 70 mil pessoas.Não se sabe exatamente quantas espécies de peixe vivem na várzea amazônica, mas estima-se que esse número chegue a 3 mil, das quais apenas 200 são usualmente capturadas e comercializadas.“O ambiente da várzea é extremamente frágil. Se o manejo não é bem feito, pode gerar impactos muito grandes”, observa Ruffino.
Para que os objetivos do manejo sejam alcançados, aponta ele, é preciso, entre outras coisas, que os países vizinhos, que compartilham os rios usados pelos mesmos peixes, tenham ações coordenadas. “É preciso ampliar a parceria com outros países, especialmente no que se refere aos recursos pesqueiros migratórios”, defende.
Brasil, Colômbia e Peru, segundo o coordenador, ainda não desenvolvem atividades em conjunto. Mas a questão é um dos temas de uma conferência internacional, chamada “Conservação e Desenvolvimento na Várzea Amazônica: aprendendo com o passado, construindo o futuro”. O evento começou na segunda-feira, em Manaus, e termina na quinta. Ele é organizado pelo PROVÁRZEA e reúne 36 debatedores de instituições brasileiras de pesquisa, governamentais e não-governamentais, e 18 de instituições do Peru, Colômbia, e de países da América do Norte e da União Européia.
A conferência tem como objetivo diagnosticar e avaliar as mudanças que ocorreram na várzea amazônica na última década e quais os cenários para os próximos anos. “Haverá uma troca de experiências entre os países participantes para analisar os avanços alcançados na área. O principal deles é o reconhecimento dos governos federal e estaduais na importância da participação das populações tradicionais nas estratégias de conservação e uso dos recursos e o desenvolvimento de mecanismos que ampliaram a participação deles nos processos de tomada de decisão”, diz Ruffino.
(Por Talita Bedinelli, PNUD, 06/12/2006)
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