O município de Gilbués, a 797 quilômetros de Teresina (no Piauí), é a sede do primeiro centro de estudos sobre desertificação do Brasil. Chamado Núcleo de Pesquisa de Recuperação de Áreas Degradadas e Combate à Desertificação (Niperade), ele agrupa 15 municípios que compõem uma das maiores áreas contínuas desertificadas do país.
O núcleo, que fica na parte mais atingida pela erosão, tem o objetivo de permitir aos pesquisadores o desenvolvimento de experiências para recuperar o solo. O prédio conta ainda com um anfiteatro, salas de aula e uma biblioteca, que servirão de apoio para a capacitação de agricultores.
A região abrange, além de Gilbués, os municípios de São Gonçalo do Gurguéia, Corrente, Monte Alegre do Piauí, Barreiras do Piauí, Curimatá, Redenção do Gurguéia, Bom Jesus, Riacho Frio, Parnaguá, Morro Cabeça no Tempo, Avelino Lopes, Júlio Borges, Sebastião Barros e Cristalândia do Piauí. A área, que abriga 68 mil habitantes, tem 34.977 quilômetros quadrados — 14% do território do Piauí, mais que o Estado de Alagoas. “A área não é muito árida, mas ela não foi explorada de maneira correta pelos habitantes”, afirma o assessor do setor de Desertificação do Ministério do Meio Ambiente, Ricardo Padilha.
O processo de desertificação da região começou na década de 40, com a exploração desordenada de diamantes. Hoje, as queimadas, para criar pastos e plantações, estão entre os maiores riscos para a degradação do solo. “A área é muito frágil e a população não sabe o porquê. Ela faz queimadas para pasto, produz um ou dois anos e vai para outra área. A terra vai embora na primeira chuva e no primeiro vento”, comenta o coordenador de Desertificação do Ministério do Meio Ambiente, José Roberto de Lima.
Uma das principais ações do núcleo, de acordo com Lima, será capacitar agricultores dos 15 municípios e educar população. “As pessoas precisam aprender a utilizar as áreas de forma correta, pois o processo erosivo é grave. O local precisa ser recuperado para que se voltem os processos produtivos”, destaca.
Segundo ele, sete capacitações para agricultores já estão programadas para 2007 e devem abordar temas como agroecologia e manejo de solo degradado. Outras atividades de educação ambiental também estão sendo planejadas em conjunto com a comunidade. “Elas serão voltadas não apenas para a produção, mas também para a questão da conservação e da preservação. [O planejamento] é sempre com o apoio da comunidade local, porque sem isso não se consegue fazer nada”, diz.
Apesar de receber uma infra-estrutura para os trabalhos apenas agora, o Nuperade foi implementado pelo governo do Piauí em 2004. Algumas pesquisas já têm sido desenvolvidas pelo órgão, entre elas práticas para nivelar o solo e conter a erosão, e o plantio de capim, feijão-guandu e feijão-caupi, para testar quais as melhores espécies vegetais que podem ser produzidas nesse tipo de terra. A construção da sede deve, de acordo com o ministério, intensificar as ações e as pesquisas e organizar as políticas públicas desenvolvidas na região. As atividades serão desenvolvidas em caráter experimental e poderão ser aplicadas em outros Estados, com a criação de novos núcleos.
A iniciativa foi realizada em parceria com o Ministério da Agricultura e com o governo do Piauí e insere-se nas atividades do Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação, que busca desenvolver diretrizes para combater e prevenir a desertificação em regiões brasileiras de clima semi-árido e subúmido seco. O projeto foi implementado como resultado da COP7 (Convenção de Combate à Desertificação), realizada em Nairobi, em 2005, e é coordenado pela Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente junto com os Programas das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para o Meio Ambiente (PNUMA) e outras instituições.
(Por Talita Bedinelli,
Agência PNUD, 06/12/2006)