O calor se aproxima e desperta a preocupação com a possibilidade de faltar água. Para
prevenir situações de racionamento emergencial, como a que foi vivida em Caxias no início
do ano, a prefeitura está se propondo um desafio: implementar um programa específico de
conservação, reuso e o uso racional.
A proposta (veja quadro na página ao lado) já conta com a permissão unânime do Legislativo
e seguirá em breve à sanção do prefeito José Ivo Sartori (PMDB). De acordo com o
diretor-geral do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), Marcus Vinícius
Caberlon, a idéia é discutir com a comunidade - envolvendo moradores, profissionais
ligados à Construção Civil, organizações representativas e ambientais, e instituições
acadêmicas - mecanismos de racionalização e conscientização sobre o uso da água.
- Há alguns meses, criamos um decreto proibindo tipos de consumo de água e a comunidade
respondeu muito bem, mas foi uma imposição. Nossa intenção agora é debater no sentido de
a comunidade se sentir participante do processo. Aí, depois, você pode ir aumentando o
grau de exigência. Não adianta fechar a torneira da casa da pessoa e exigir que poupe
água sem conscientização - analisa.
Caberlon informa que o Samae será o responsável por organizar as ações ligadas ao
programa. Uma das práticas a serem executadas pelo município será, num prazo de cinco
anos, adaptar os prédios de sua propriedade com sistemas capazes de reaproveitar águas
já utilizadas e das chuvas. Caberlon levanta a hipótese de uma escola servir de projeto
piloto, trabalhando paralelamente com os alunos a importância da preservação da água.
Conforme o texto, o programa abrangerá, também, os projetos de novas habitações de
interesse social a serem construídas na cidade.
Sistema para aproveitar a chuva
Economia financeira e consciência ambiental foram as conquistas do mecânico de automóveis
Higino Roberto Nery dos Santos, 43 anos, e da comerciária Marivete Caron dos Santos, 45,
depois da instalação de um processo de reaproveitamento de água da chuva na residência. O
sistema é simples, ecológico e, na opinião de Marivete, poderia ser aplicado em outras
casas e edifícios. São dois reservatórios de cerca de mil litros que recebem as águas das
chuvas. O líquido passa por um encanamento normal até chegar no tanque, onde existem duas
torneiras para água da chuva e uma terceira para a água tratada do Samae.
- Há um filtro na saída das caixas porque, às vezes, caem folhas e é preciso evitar que
elas desçam. Para lavar a calçada, o carro e a casa, só usamos essa água. Com uma
residência de 17 peças, gastamos apenas R$ 20 de água do Samae (esse valor é basicamente o
custo do consumo de 10 mil litros) - conta Marivete.
- Na última seca não sofremos por falta de água. Tanto que o Samae recebeu denúncia e veio
aqui em casa ver porque estávamos lavando a calçada. Aí mostramos as caixas. É um sistema
que criamos por necessidade de economia e porque poupa o uso de água potável - explica
Santos.
Processo para reuso de águas cinzas
Um sistema de reuso de águas cinzas (aquelas já utilizadas em banheiras, chuveiros,
máquinas de lavar, entre outros) foi criado pela Comercial Allfenix e está sendo implantado
experimentalmente num prédio de 16 apartamentos no loteamento Sanvitto. Encabeçado pelos
empresários Sérgio Pegorini e Jair Bergozza, o processo estabelece o aproveitamento, com
filtragem e tratamento, das águas já usadas para a descarga de sanitários, lavagem do
prédio e jardins.
- Esse sistema gera economia de 30% no consumo. É um trabalho novo que trará benefícios.
Existem processos de uso da água das chuvas, mas acaba sendo um paliativo enquanto o
reaproveitamento das águas já utilizadas é constante - diz.
No Legislativo caxiense tramita um proposição de autoria do vereador Vinicius Ribeiro
(PDT) que altera o Código de Obras do município, exigindo a construção de sistemas de
reutilização de águas servidas em vasos sanitários e outras finalidades, exceto ao consumo
humano. A obrigação seria aplicada às edificações com mais de 300 m² de área construída e
superiores a três pavimentos. O texto do parlamentar já recebeu parecer favorável da
assessoria jurídica da Casa e está, em análise no Poder Executivo.
O que diz o programa
- O projeto de lei 173/2006 foi aprovado no Legislativo caxiense, por unanimidade, no dia
22 de novembro deste ano. Ele institui o Programa Municipal de Conservação, Reuso e Uso
Racional da Água em Caxias do Sul.
- Esse programa tem por objetivo criar medidas e mecanismos que induzam à conservação, uso
racional e reuso das águas, bem como a conscientização dos usuários sobre a importância
da conservação da água.
- Ele abrangerá, também, os projetos de construção de novas habitações de interesse
social. Já os bens imóveis do município deverão ser adaptados ao programa no prazo de cinco anos.
- O programa desenvolverá as seguintes ações: conservação e uso racional de água,
entendido como o conjunto de ações que propiciam economia de água; utilização de fontes
alternativas, entendido como o conjunto de ações que possibilitam o uso de outras fontes
de captação de água.
- Deverão ser estudadas soluções técnicas a serem aplicadas nos projetos de novas
edificações, especialmente na parte de sistemas hidráulicos e de captação, armazenamento
e utilização de água proveniente de chuvas.
- Serão estudadas soluções técnicas e um programa de estímulo à adaptação nas edificações
existentes.
- A participação no programa será aberta às instituições públicas e privadas e à
comunidade científica, que serão convidados a participar das discussões e apresentar
sugestões.
- Fica sob a responsabilidade do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) a
organização e execução do programa.
- O Poder Executivo regulamentará a presente Lei, no que couber, no prazo 180 dias a
contar da publicação.
- As despesas necessárias para aplicação da lei correrão à conta de dotações orçamentárias
próprias ou suplementares.
(Por Vania Espeiorin,
Pioneiro, 06/12/2006)