A multinacional americana Monsanto, que mundialmente tem se dedicado ao desenvolvimento de tecnologias transgênicas para grãos e algodão, decidiu reforçar as suas apostas no segmento de biocombustíveis. No Brasil, a empresa fechou parceria com uma empresa de capital nacional para desenvolver variedades de cana transgênica.
"A empresa vai disponibilizar toda a tecnologia que possui para desenvolver variedades de cana que ofereçam melhor rendimento", afirmou Alfonso Alba, presidente da Monsanto do Brasil. Entre as tecnologias que já dispõe estão genes que conferem resistência a pragas, tolerância a herbicidas e resistência ao estresse hídrico. A empresa também planeja desenvolver, nessa parceria, variedades de cana com maior índice de sacarose para aumentar a produtividade de etanol por hectare.
O nome da empresa é mantido em sigilo, tendo em vista que o acordo não está formalizado. Atualmente, desenvolvem pesquisas no país com cana transgênica a Allelyx, da Votorantim Novos Negócios - que está com estudos adiantados, em fase de experimentação em campo - o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que pertencia à Copersucar.
Nos Estados Unidos, a Monsanto e a também americana Cargill formaram a Renessen, uma joint venture criada para o desenvolvimento de grãos adaptados à produção de biocombustíveis. A Renessen recebeu investimento de US$ 12 milhões na instalação de uma planta-piloto no Estado de Iowa. A meta das empresas é iniciar o processamento de grãos em 2007. Conforme Alba, a empresa desenvolve variedades de milho com maior índice de amido (o que eleva a produção de etanol) e com características que permitem um melhor aproveitamento do farelo para a produção de rações.
Em caráter individual, a Monsanto desenvolve nos EUA variedades de soja com teor de óleo de até 30%. As plantas convencionais possuem um teor próximo de 21%. Alba diz que a empresa tem sido procurada por clientes que querem grãos com melhor rendimento para a produção de biodiesel e etanol. "A demanda por biocombustíveis mudou a demanda internacional por grãos e essa não será mudança passageira, é estrutural."
Fora da área de biocombustíveis, a Monsanto também desenvolve uma variedade de soja com baixo teor de ácido linoléico - com essa característica, a soja não precisa ser hidrogenada no processo de produção de óleos e margarinas e, por isso, fica livre de gorduras trans. Segundo Alba, a empresa também desenvolve no exterior variedades de soja resistentes à seca. Essas tecnologias, conforme o executivo, devem chegar ao mercado internacional em 2009. No Brasil, a expectativa é que os produtos sejam lançados até 2013.
Em 2005, a Monsanto faturou no Brasil R$ 2,251 bilhões e teve lucro líquido de R$ 182,354 milhões, contra R$ 18,521 milhões no ano anterior. A empresa não falou sobre estimativas para este ano. Conforme Alba, a Monsanto teve perdas nos segmentos de sementes de milho e sorgo e com a venda de herbicidas. A receita com royalties sobre a tecnologia Roundup Ready (RR) foi a menos afetada, pelo fato de a tecnologia ser vendida de forma indireta - via indústrias - e sem financiamento.
(Por Cibelle Bouças,
Valor Econômico, 06/12/2006)