Usinas hidrelétricas - reverenciadas como geradoras de energia limpa - podem ser perigosas contribuintes das mudanças climáticas. Isto é o que surpreendentemente clamam cientistas que dizem que as represas produzem grande quantidade de metano, um dos mais potentes causadores do aquecimento global. Em um encontro da Unesco em Paris nesta semana, cientistas da França e do Brasil irão apresentar evidências para mostrar que matéria orgânica é freqüentemente presa em reservatórios quando as represas são construídas. Esta matéria depois se decompõe e, como resultado, a água emite dióxido de carbono e metano, um gás com 20 vezes mais impacto que o CO2.
Este problema é particularmente severo nos trópicos. O pesquisador Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia afirmou na revista Nature que uma típica usina hidrelétrica irá produzir quatro vezes mais a quantidade de carbono que uma usina de combustíveis fósseis emitiria nos seus dez primeiros anos de vida. No estudo Mitigação e Estratégias de Adaptação para as Mudanças Climáticas, Fearnside estima que em 1990 as emissões de gases do efeito estufa vindos da represa Curuá-Uma, no Pará, eram três vezes maiores que as geradas por uma usina de combustível fóssil produzindo a mesma quantidade de eletricidade.
Outros cientistas divergem e afirmam que as emissões de metano somente ocorrem nos primeiros anos de operação de uma repressa e usinas hidrelétricas já instaladas produzem relativamente modestas quantidades de metano e dióxido de carbono. A Comissão Mundial sobre Barragens (www.dams.org) tem ressaltado que, apesar da constatação da emissão de GEE, é preciso considerar o modo com que o sistema anterior à construção da barragem se comportava quanto às trocas de GHG com a atmosfera.
Acusar os projetos de represas de colaborar com o aquecimento global não é novidade. Além de já ter sido discutido em revistas como New Scientist em 2000, foi tema em rodadas deste ano de discussões do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Segundo o IPCC, países tropicais que têm sua matriz energética diretamente ligada a hidroeletricidade, como o Brasil, poderiam ver o inventário nacional de gases do efeito estufa aumentar até cerca de 7%. Países frios seriam menos afetados por causa das condições menos favoráveis para produzir gases do efeito estufa.
(CarbonoBrasil / Ambiente Brasil, 05/12/2006)