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2006-12-06
A euforia com a descoberta recente e os anúncios de investimentos na extração de gás natural no Espírito Santo pode ser explicada pelo interesse das grandes empresas poluidoras do Estado, que utilizam a maior parte do gás aqui produzido. Somente a Vale do Rio Doce consome atualmente em torno de 400 mil m3/dia, mas poderia estar na faixa de 600 mil m3/dia, caso houvesse maior oferta de gás. A produção de gás natural no Estado alcança cerca de 750 mil m3/dia, dos quais 700 mil m3/dia são colocados no mercado consumidor, sendo que aproximadamente 400 mil (mais da metade) são utilizados nas usinas de pelotização da Vale, na Ponta de Tubarão.

Apesar de o Espírito Santo ser o menor estado da região mais rica do País, é, paradoxalmente, a unidade da federação que tem o maior consumo energético per capita do País. Mas o Estado não vem se beneficiando, como deveria, do fato de apresentar o maior consumo de energia per capita do Brasil. Isso é comprovado quando se consideram alguns indicadores que mais refletem as condições sociais de sua população, que poderiam ser sensivelmente melhores se houvesse uma distribuição das riquezas mais justa.

A distribuição do consumo de gás no Estado é de 54% para o segmento siderúrgico, 23,9% para o de celulose, 9,8% para o cerâmico, 6,8% para o químico, 4,2% para o têxtil, 1% para o alimentício e 0,2% para o cimenteiro. A perspectiva de aumento gradativo da oferta de gás no Estado já está movimentando os planos da Vale.

A oitava usina de pelotização da empresa já conta com tecnologia para trabalhar utilizando 100% do combustível derivado do gás natural. Existem hoje, em Tubarão, quatro usinas de pelotização bicombustível, funcionando tanto com gás natural quanto com óleo combustível. A oitava usina da Vale prevê um consumo da ordem de 350 mil m3/dia e dimensionada para produzir 7 milhões de toneladas de pelotas de minério de ferro por ano.

Quando o fornecimento de gás é suficiente, a utilização dele é de 100% nas quatro unidades. A idéia da empresa é converter todo o complexo industrial para o uso do gás, passando a consumir 1.350.000 m3/dia.

Um fator que facilita as negociações de preço e oferta de gás da Vale com a Petrobras é o fato de o presidente da CVRD, Roger Agnelli, ter assento no Conselho de Cdministração da Petrobrás. A Vale já está atualmente envolvida em negociação de preço do gás que será utilizado na siderúrgica Ceará Steel, um projeto de produção de placas de aço no nordeste brasileiro, no qual a Vale é acionista.

No setor de infra-estrutura para o recebimento de gás, a presença da Vale e sua potencial demanda foram vitais para a viabilização do investimento da Petrobras em canalizar para esta região (gasoduto Cacimbas-Vitória) o gás produzido no norte do Estado. Com isso, todo o parque industrial acabou sendo beneficiado.

No caso da população, o indicador mostrando o pequeno benefício a ela destinado refere-se a um quociente resultante de um numerador que reflete uma grande concentração industrial - com alto consumo energético - e um denominador representativo da relativamente baixa população.

O mercado de gás natural no Estado do Espírito Santo será um dos maiores do Brasil. O Estado conta com produção própria de gás, com boas perspectivas de ser aumentada, e passará a ser ligado ao gasoduto da região Sudeste/Sul/Centro-Oeste, o que permitirá recebimento de gás da Bacia de Campos e eventualmente da Bolívia. Com grandes consumidores potenciais em seu território, como a Vale, a CST, a Aracruz qualquer aumento de produção local é prontamente absorvido pelo mercado.

O gás utilizado hoje vem da região produtora no norte do Estado, via gasoduto até os municípios da Grande Vitória. Um ramal contorna a ilha, saindo do município da Serra, levando gás para os municípios de Viana e Cariacica, na parte sul da Capital, ficando sua extremidade bem próxima ao município de Vila Velha.

As reservas de gás natural no Estado são estimadas de 12 a 13 bilhões de m3. Existem mais 71 blocos exploratórios com potencial para gás no Sul-Sudeste, um total de 62 mil Km2. No Espírito Santo, são 25 Blocos, totalizando 11,45 mil Km2.
(Por José Alfredo Júnior, Século Diário – ES, 05/12/2006)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2006/dezembro/05/noticiario/economia/05_12_01.asp

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