Quando as empresas brasileiras de papel e celulose obtiveram dois anos atrás as primeiras certificações do Forest Stewardship Council (FSC), uma espécie de selo de garantia no trato de questões ambientais, sociais e econômicas, os projetos tinham o objetivo de atender o mercado externo. Isso está mudando. A Natura introduziu no mercado brasileiro o primeiro produto com embalagem com o selo do FSC, um creme para olhos da linha Chronos.
A fabricante de cosméticos é a ponta da cadeia que passa pela gráfica, a Box Print, e a produtora de papel, a Klabin, ambas auditadas pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), uma autorizada do FSC. "A Natura tem uma visão de mercado internacional", disse o diretor comercial de papéis da Klabin, Donald Mota.
Depois de receber a certificação no fim de 2004 da unidade de celulose na Bahia, voltada para exportação, a Suzano Papel e Celulose anunciou ontem a obtenção do selo FSC para suas operações em São Paulo. A certificação abrange 77 mil hectares de florestas e duas unidades industriais especializadas em papel, cujo principal destino é o mercado interno. "O selo tem uma credibilidade inquestionável", disse o gerente de negócio florestal, Luiz Cornacchioni.
No exterior, as empresas brasileiras não conseguem ainda observar um diferencial de preço sobre o papel ou a celulose não-certificada. Mas as companhias estão vendo a possibilidade de abertura de mercados no setor alimentício.
Desde que a Tetra Pak, fabricante de embalagens, teve problemas na Itália há um ano com uma gráfica em que a tinta química impressa numa embalagem contaminou um leite fabricado pela Nestlé, as grandes empresas - fabricantes de bens de consumo ou varejistas - procuram buscar fornecedores capazes de garantir a rastreabilidade de seus produtos.
A Barilla, fabricante de massas, passou a comprar há oito meses de uma gráfica o papel-cartão de fibra virgem fornecido pela Klabin. A empresa italiana usava papel reciclado. Ao todo, são 200 toneladas por mês. "O volume ainda é pequeno, mas indica uma tendência", disse Mota, da Klabin.
(Por André Vieira,
Valor Econômico, 05/12/2006)