Apesar da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ter se manifestado contra a construção de novas usinas nucleares no Brasil em entrevista ao Valor, o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, disse ontem que o assunto não depende da opinião de um ou outro ministro.
"A questão da decisão estratégica vai muito além do Ministério de Minas e Energia, do Ministério de Meio Ambiente. Vai ao CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) dentro de uma discussão maior que será coordenada pelo próprio presidente (Lula)", explicou Rondeau, que ontem se reuniu reservadamente com executivos da Câmara Americana de Comércio (Amcham-RJ) antes de participar de um almoço.
Frisando que a posição de Marina Silva "é uma convicção dela, que deve ser respeitada", o ministro explicou que serão necessários pelo menos 4 mil megawatts (MW) de geração nuclear no Brasil, metade no Nordeste, no período 2015-2030 para garantir o suprimento do país. E disse que se essa energia não entrar no sistema, terá de ser substituída por hidrelétricas com potência equivalente.
"A discussão nuclear será feita após uma definição de política, de orientações estratégicas de governo de que a energia nuclear terá avanço ou não. O que o planejamento decenal e o Plano de Energia com visão até 2030 dizem é que existe essa oportunidade porque essa fonte é viável, já estará em patamares de segurança tecnológica de nível mundial e pode entrar tranqüilamente", respondeu.
Segundo Rondeau, o presidente Lula determinou aos seus ministros, principalmente os da área de infra-estrutura, que tenham prontos, até o início do segundo mandato, os principais projetos para melhorar a infra-estrutura do país, e em suas palavras, destravar os obstáculos e gargalos que impedem o crescimento do país. Nessa linha, o Plano Nacional de Energia deverá ser apresentado ao CNPE na segunda quinzena deste mês.
"Estamos trabalhando para que a determinação do presidente seja atendida antes do Natal. Porque dia 1º de janeiro ele começa um novo governo", disse.
Segundo o ministro, o projeto para aumentar a robustez da Eletrobrás poderá demorar mais tempo, já que o assunto envolve decisões dos ministérios da Fazenda, Minas e Energia, Planejamento e Casa Civil. Rondeau, que já presidiu a Eletrobrás, admitiu que a estatal ainda tem problemas para serem equacionados, entre eles dívidas relativas a dividendos não pagos e o controle - que deveria ser temporário - das problemáticas distribuidoras federalizadas.
(Por Cláudia Schüffner,
Valor Econômico, 05/12/2006)