Poluição da baia de Vitória afeta fauna
2006-12-05
A poluição do Sistema Estuarino da Grande Vitória (SEGV), constituído pela Baía de Vitória e Canal da Passagem, afeta a meiofauna, reduzindo sua densidade. Esta é a conclusão do relatório final do projeto "Utilização de Biomarcadores Lipídicos na Avaliação da Poluição Ambiental na Baía de Vitória e Canal da Passagem".
O pesquisador responsável pela pesquisa foi o professor doutor Renato Rodrigues Neto, do Departamento de Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O projeto foi realizado com recursos do Fundo de Apoio à Ciência e Tecnologia (Facitec), da prefeitura de Vitória.
Informam os autores que o projeto de pesquisa visou a diagnosticar a situação da poluição orgânica associada a efluentes domésticos no Sistema Estuarino da Grande Vitória (SEGV), além de avaliar as inter-relações entre parâmetros físicos, químicos e hidrobiológicos estudados em 18 estações de amostragem da coluna d'água e sedimentos.
Lembram que "os ambientes estuarinos são condicionados por diversos fatores de natureza física, química, biológica e sócio-econômica associados à sua bacia de drenagem e às águas costeiras adjacentes. Os sistemas estuarinos associados às áreas urbanas e bacias hidrográficas onde predominam atividades agrícolas e industriais geralmente apresentam diversos problemas relacionados à poluição e contaminação ambiental."
E que "o Sistema Estuarino da Grande Vitória - SEGV (Espírito Santo), constituído pela Baía de Vitória e Canal da Passagem, não é uma exceção nesse cenário. O presente projeto de pesquisa visou diagnosticar a situação da poluição orgânica associada a efluentes domésticos no SEGV, além de avaliar as inter-relações entre parâmetros físicos, químicos e hidrobiológicos estudados em 18 estações de amostragem da coluna".
Nas suas conclusões, os pesquisadores indicaram em junho deste ano que "a densidade da meiofauna (que variou de 5,19 a 459,07) foi baixa quando comparada com outros estudos em ambientes estuarinos, sugerindo que a poluição do Sistema Estuarino da Grande Vitória afeta a meiofauna reduzindo sua densidade".
E que "os resultados encontrados mostraram que o sistema estudado encontra-se em processo de eutrofização. Significativos focos de poluição por esgotos domésticos foram identificados" em três dos nos pontos estudados, "sendo o Canal da Passagem a área mais impactada".
Exceto em dois locais todos os pontos estudados "tiveram altos índices de poluição por esgoto doméstico". Em relação aos "ácidos graxos mostraram que restos de plantas superiores, como fonte de matéria orgânica, estão presentes em boa parte do sistema", mas ressalvam os pesquisadores que "no entanto, o índice RTA (ácidos graxos) indica que existe um aporte de matéria orgânica predominantemente aquática em 13 dos 18 pontos estudados".
E que "a distribuição dos n-alcanos e a presença da mistura complexa não-resolvida indicaram que boa parte das estações sofreu aporte de hidrocarbonetos oriundos de óleo mineral. A estação que apresentou um aporte mais característico é o em frente ao atracadouro de barcos de pescadores".
Para finalizar, que "a densidade da meiofauna (que variou de 5,19 a 459,07) foi baixa quando comparada com outros estudos em ambientes estuarinos, sugerindo que a poluição do Sistema Estuarino da Grande Vitória (SEGV) afeta a meiofauna reduzindo sua densidade".
Participaram da pesquisa coordenada por Renato Rodrigues Neto os pesquisadores professores doutores Gilberto Fonseca Barroso, do DERN - Ufes e Taciana Kramer Pinto de Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e as bolsistas Carina Carlos dos Santos, Caroline Fiório Grilo, ambas do DERN, a estagiária Catarina Dalvi Boina, do Departamento de Biologia (DBIO) da Ufes.
Leitura técnica
"Os parâmetros estudados na coluna d'água indicaram uma ampla variação das condições ambientais do sistema estuarino, como por exemplo, salinidade (3,8 a 32,9), oxigênio dissolvido (0,56 a 5,56 mg/L), material particulado total (15 a 40 mg/L;), turbidez (2,63 a 10,46 UNT), fósforo total (4,28 a 33,19 µM), ortofosfato (0,20 a 3,20 µM), nitrogênio total (11,67 a 47,49 µM), nitrito (0,25 a 1,14 µM), nitrato (1,83 a 20,19 µM), amônia (9,66 a 49,23 µM), clorofila a (0,61 a 6,72 µg/L) e coliformes termotolerantes (14 a 5,0x104 NMP/100mL). Para o sedimento foram determinadas as variações para o fósforo total (0,04 a 0,49 mg/g P.S.), nitrogênio total (0,02 a 1,23 mg/g P.S.), totais de n-alcanos (não-detectado a 43,15 µg/g P.S.) e ácidos graxos saturados (0,31 a 58,50 µg/g P.S.).
O índice de preferência de carbono (IPC) e a relação entre compostos terrígenos e aquáticos (RTA) para os n-alcanos variaram entre 1,01 e 2,96; e 0,33 e 48,67; respectivamente. Os valores mínimos dos índices IPC e RTA para os ácidos graxos foram de 1,10 e 0,25; enquanto que os valores máximos foram de 145,51 e 12,26, respectivamente.
A meiofauna esteve composta por 11 grupos taxonômicos, sendo o grupo Nematoda o mais abundante (79%), seguidos de Copepoda e Polychaeta (12% e 7%, respectivamente; os outros grupos não ultrapassaram 2%). Baseando-se nestes valores, as águas do sistema estuarino se enquadram na classe 3 (segundo a Resolução CONAMA nº 357 de 2005), destinadas à navegação e à harmonia paisagística.
Os resultados encontrados mostraram que o sistema estudado encontra-se em processo de eutrofização. Significativos focos de poluição por esgotos domésticos foram identificados nos pontos 5, 8 e 14, sendo o Canal da Passagem a área mais impactada. A razão [ß(a+ ß)] mostrou que todos os pontos estudados, exceto 10 e 15, tiveram altos índices de poluição por esgoto doméstico.
Comparando-se com os Coliformes Fecais, os compostos féco-esteróis aparentemente sofreram menos influência da salinidade e oxigênio, sendo a razão [ß(a+ ß)] mais precisa.
Os valores de IPC para os ácidos graxos mostraram que restos de plantas superiores, como fonte de matéria orgânica, estão presentes em boa parte do sistema. No entanto, o índice RTA (ácidos graxos) indica que existe um aporte de matéria orgânica predominantemente aquática em 13 dos 18 pontos estudados.
A distribuição dos n-alcanos e a presença da mistura complexa não-resolvida indicaram que boa parte das estações sofreu aporte de hidrocarbonetos oriundos de óleo mineral.
A estação que apresentou um aporte mais característico é o em frente ao atracadouro de barcos de pescadores (estação 1). A densidade da meiofauna (que variou de 5,19 a 459,07) foi baixa quando comparada com outros estudos em ambientes estuarinos, sugerindo que a poluição do SEGV afeta a meiofauna reduzindo sua densidade".
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário – ES, 04/12/2006)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2006/dezembro/04/index.asp