A ilha que não gosta do mar: Em um raro fenômeno natural, ilha de Tonga se dissolve como aspirina na água
2006-12-05
O arquipélago de Tonga, única monarquia situada na Polinésia em meio ao oceano Pacífico, ganhou fama na semana passada quando as lentes de satélites da Nasa, a agência espacial americana, identificaram uma nova ilha que passa por um dos mais inusitados processos naturais do Universo. Ela tem aproximadamente 1,5 quilômetro de extensão e cerca de 500 metros de largura, e flutua entre as ilhas Há’apai e Vava’u, a 350 quilômetros da capital Nuku’alofa. Os pesquisadores descobriram que a ilhota é recém-nascida: não tem mais que dois meses de idade e se formou a partir da explosão do Home Reef, um vulcão submarino que entrou em erupção há três meses, espalhando pelo mar pedaços de rochas incandescentes.
Mas nem deu tempo de o rei Taufa’ahau Tupou V comemorar o aumento territorial de Tonga que atualmente é composto por 169 ilhas. A “ilha bebê”, como os cientistas apelidaram a nova integrante do arquipélago, nasceu com os dias contados: terá apenas um mês de vida. Motivo: com a explosão do Home Reef, diversos blocos se juntaram e, ao se resfriarem, formaram a tal ilha. Assim, ela tem uma formação rochosa parecida com a de uma pedra-pome e vai se desfazendo aos poucos em contato permanente com a água. “Feita de cinzas arenosas e poucos blocos maciços, a ilha é tão frágil que não dá para caminhar sobre ela”, diz Victor Hugo Forjaz, diretor do Observatório Geotérmico dos Açores e um dos maiores especialistas do mundo nessa área.
A ilhota de Tonga tende a desaparecer antes que receba um nome, mesmo porque ela já perdeu um terço de seu tamanho. O processo de “esfarelamento” está acelerado porque a alta concentração de sal do oceano lhe altera a composição, deixando-a mais pesada. Ela vai então afundando e, submersa, se dissolve como aspirina na água. A única chance de sobrevivência é, se o vulcão que a originou, explodir novamente: a ilha condenada poderá aumentar de tamanho se a ela se agregarem novos blocos incandescentes que ficarão à deriva no mar. Mas há um problema: se nova explosão acontecer, acontecerá também um desequilíbrio ecológico porque a alta concentração de componentes químicos na água afugentará cardumes e causará grandes tempestades.
Depois do nascimento da ilhota em Tonga, os cientistas estão pesquisando a atividade sísmica dos vulcões submersos mais ativos do mundo para calcular
as chances de que o fenômeno se repita. Dentre as áreas candidatas estão
os arquipélagos dos Açores e a região próxima à Islândia, ambas situadas no
oceano Atlântico.
(Por Luciana Sgarbi, IstoÉ, 06/12/2006)
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