Depois de ter trocado o utilitário esportivo (SUV) por um híbrido Prius, mais eficiente do ponto de vista energético, e colocar os produtos orgânicos na lista semanal do supermercado, qual será o próximo passo do consumidor preocupado com o meio ambiente? Para um número crescente de consumidores de "mentalidade verde", a resposta é o guarda-roupa.
O algodão orgânico, antes encontrado apenas nos corpos dos hippies e ambientalistas radicais, está agora tentando conseguir uma maior visibilidade. Seja nas roupas, linhos, edredons ou fraldas, o algodão orgânico começa a aparecer em todos os lugares, de caros hotéis do tipo "bed-and-breakfast" em Nantucket, à loja Green Baby de Notting Hill, em Londres. Os defensores alegam que a fibra é melhor para o bem do planeta, dos produtores e dos consumidores, do que o algodão do tipo comum. Verdade ou não, o algodão orgânico certamente parece cada vez mais atraente para os comerciantes que tentam construir uma imagem de socialmente responsáveis. Afinal, a ética é tudo.
Lojas de nicho e empresas ecologicamente corretas como a Patagonia, uma fabricante de roupas esportivas, vendem roupas orgânicas há anos. Mas agora as grandes redes varejistas estão aderindo. Marks & Spencer, Nordstrom e Wal-Mart estão entre elas. A The Organic Exchange, uma associação comercial, avalia que quase US$ 1,1 bilhão em produtos orgânicos serão vendidos este ano, quase o dobro do número do ano passado, que foi de US$ 583 milhões. Segundo suas projeções, até 2008 essas vendas somarão US$ 2,6 bilhões.
O algodão orgânico é definido, a grosso modo, como uma fibra que não se origina de sementes geneticamente modificadas e que cresce sem o uso de pesticidas químicos e fertilizantes. Em áreas em que os produtos químicos sintéticos foram usados no passado, é preciso cerca de três ciclos de crescimento para se fazer uma conversão completa. A mudança para os orgânicos é indiscutivelmente mais difícil nos Estados Unidos, um país que ama os produtos químicos e onde 80% do algodão colhido é transgênico; em nível mundial, apenas cerca de 20% do algodão se encontra nessa condição.
Apesar das grandes expectativas dos defensores do algodão orgânico, várias mudanças poderão impedir que ele de fato alcance uma ampla disseminação. Para começar, não há muito dele por aí. O algodão orgânico responde atualmente por apenas 0,1% da produção mundial de algodão, e isso por uma série de motivos. O custo da conversão orgânica e as safras menores que as do algodão comum (pelo menos nos primeiros anos depois de uma conversão) não despertam o interesse dos agricultores. Estes também temem a demanda incerta desse mercado.
A Organic Exchange afirma que os compromissos de longo prazo assumidos pelos grandes grupos varejistas agora significam que a produção está crescendo muito rapidamente. Mas ainda vai levar anos para que o algodão orgânico abocanhe uma participação de mercado significativa. Enquanto isso, alguns grandes grupos varejistas estão tendo que limitar suas roupas orgânicas a determinados itens (sempre pequenos), como roupas de bebês, ou misturando o algodão orgânico com outras fibras.
Dada a oferta limitada, não surpreende que o algodão orgânico seja bem mais caro que a variedade comum. O produto da Turquia, país que é o maior produtor mundial, custa cerca de 20% mais caro que o tipo convencional. O ágio é menor na Índia e Paquistão, dois outros grandes produtores que possuem mão-de-obra barata, e maior nos Estados Unidos.
O custo adicional é então repassado para o comércio. A Marks & Spencer, por exemplo, diz cobrar cerca de 1 libra (US$ 1,95) a mais por uma camiseta feita com algodão orgânico, do que uma feita totalmente com algodão comum. Mas a diferença de preço poderá diminuir se a produção do algodão orgânico aumentar e o preço do algodão convencional (atualmente em cerca de US$ 0,57 a libra peso) voltar para o patamar médio em que ficou durante muito tempo, de US$ 0,70.
Outro problema é potencial de fraudes. Profissionais da indústria do algodão afirmam que é virtualmente impossível diferenciar o algodão orgânico do tipo comum. O ágio sobre o algodão orgânico e um sistema de inspeção falho significam que "o mercado [do algodão orgânico] é absolutamente propenso às fraudes", afirma Mark Messura da Cotton Incorporated, uma associação comercial americana.
Ele não está sozinho no ceticismo em relação ao apelo de longo prazo do algodão orgânico. Ele sugere que o aumento atual do interesse pelo produto é motivado mais pelos varejistas que pelos consumidores, cujas preferências instáveis podem mudar subitamente. "Esta é a sensação da estação", diz Messura. "Mas no ano que vem a coisa pode mudar."
(
The Economist , 05/12/2006)