Blair anuncia redução de 20% do arsenal nuclear do Reino Unido
2006-12-05
O primeiro-ministro britânico Tony Blair anunciou na segunda-feira a redução do arsenal nuclear de seu país em 20%. Blair apresentou à Câmara dos Comuns um polêmico plano de dissuasão nuclear, que significa em termos práticos a manutenção de um arsenal capaz de fazer pressão contra grupos ou mesmo outros países.
O plano, que faz parte do projeto governamental para substituir o míssil de fabricação americana Trident, levará o exército britânico a reduzir seu arsenal de ogivas nucleares das atuais 200 para 160. Ao delinear a proposta do governo, Blair disse ante o Parlamento que seria perigoso para o Reino Unido abandonar seu sistema de mísseis Trident, já que, segundo o primeiro-ministro, vive-se hoje em um "mundo incerto". Uma força de dissuasão nuclear representa uma "a garantia final", assegurou Blair. Ele indicou que, depois de um período de debate, o Parlamento votará em março do próximo ano sobre esse plano.
Oposição
Este projeto é impugnado pelas próprias fileiras trabalhistas do partido de Blair, assim como pelos ecologistas e pacifistas, que afirmam que os bilhões de libras que serão investidos em novos submarinos nucleares deveriam ser dedicados a programas sociais e de saúde.
O custo desta modernização da força de dissuasão britânica está estimada entre 15 bilhões e 20 bilhões de libras ao longo de três décadas. Segundo uma pesquisa do jornal britânico "The Independent", um em cada quatro deputados do partido trabalhista se opõe a este plano por achar que o Reino Unido não precisa de uma força de dissuasão nuclear, já que a Guerra Fria acabou.
Opções
O governo de Londres precisa escolher entre quatro opções: renunciar ao armamento nuclear, prolongar a vida útil do atual sistema de mísseis Trident 11 D5 e os submarinos correspondentes Vanguard, substituir estes mísseis por outros novos em virtude do acordo existente com Washington ou adquirir um sistema totalmente novo de mísseis.
Uma pequena maioria da opinião pública britânica se mostra a favor de que o país conserve uma força de dissuasão independente, mas, por outro lado, em seu último congresso, em setembro, a confederação britânica de sindicatos rejeitou por votação o Trident. Muitos membros da esquerda trabalhista acham que a eventual substituição dos Trident representaria uma violação das obrigações contraídas pelo Reino Unido ao assinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.
Outros argumentam que o sistema Trident tinha sentido durante a Guerra Fria, mas não agora, quando o principal perigo que o país enfrenta são as redes terroristas e não outras potências nucleares.
O atual sistema Trident entrou em serviço no fim de 1994 e sua vida útil é calculada em entre 25 e 30 anos. Apesar de os mísseis destinados eventualmente a substituí-lo não entrem em serviço até meados de 2020, seria preciso começar já a tomar as decisões necessárias.
(Folha Online, 04/12/2006)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u102463.shtml