Agricultores ecologistas lançam campanha pela redução do consumo de plástico em Porto Alegre
2006-12-04
“Tenho pavor ao plástico. Procuro sempre evitar as embalagens plásticas. É importante que
as pessoas se conscientizem sobre os males que eles podem causar”. A afirmação expontânea
da consumidora Elena Almeida, na manhã ensolarada desse sábado (02/12), durante suas compras
na Feira dos Agricultores Ecologistas da primeira quadra da Rua José Bonifácio, em Porto
Alegre, realçava bem a campanha que acabava de ser lançada. “Menos plásticos e mais saúde”
é o slogan do movimento que tenta diminuir o consumo de sacolas e embalagens plásticas.
A partir desse sábado e até o próximo dia 16, todos os consumidores que levarem suas
sacolas plásticas de casa terão direito a fichas. No dia 23 de dezembro, ante-véspera do
Natal, os clientes inscritos que apresentarem o maior número de fichas ganham vale-compras
que poderão ser utilizados na Feira. “Não é tanto pelos vale-compras, que vão de R$ 50,00
a R$ 20,00, mas pela conscientização das pessoas que está o valor dessa campanha”, afirma a
jornalista e uma das organizadoras do movimento Cláudia Dreier.
Enquanto animava os consumidores, colocando uma seleta programação de música popular
brasileira na Rádio Feira, instalada com essa finalidade, em parceria com o técnico de som,
também jornalista e músico, Felipe Messa, Cláudia chamava as pessoas a assinarem um
manifesto que pede à Editora L&PM a reedição do livro “O Futuro Roubado”, que está
esgotado e mostra as ameaças que o plástico causa à saúde humana, dos animais e do
ambiente.
No momento em cadastrava suas fichas, a consumidora Elena Almeida esbanjava otimismo.
“Freqüento a Feira há quatro anos, desde que me mudei do Bairro Tristeza para o Bom Fim.
Essa iniciativa é maravilhosa. Ela é fundamental para a conscientização das pessoas.
Sempre trago minhas sacolas. Eu nunca pego as da feira. Espero que todas as pessoas se
conscientizem sobre a importância dessa iniciativa”.
Dramático
Já, no meio da manhã, os primeiros resultados mostravam que os clientes começavam a
entender o recado dos agricultores. Antes das 9h30min, cerca de 40 pessoas haviam
cadastrado suas fichas. A agricultora Flávia Ryzewski, da cidade de Mariana Pimentel e uma
das representantes da Comissão da Feira, revelava o drama vivido pelos que dependem da
terra para sobreviver. “O problema do plástico chega ser dramático, pois ele se espalha
rapidamente. Nos locais mais longínquos, onde achávamos que ele não estava presente, começa
a ser encontrado”.
É triste ver em estabelecimentos comerciais pessoas pegando mais sacolas do que necessitam,
revela Flávia Ryzewski. “Temos que voltar à época das sacolas de papel, que se degradam
rapidamente”, acrescenta. “As pessoas não pensam no futuro. Imagine o que será daqui há dez
anos, por exemplo, com essa grande quantidade de plástico. Em qualquer praça ou parque,
quando cavamos para plantar árvores, encontramos plásticos que estão ali há mais de 20
anos, quase intactos. Temos que pensar seriamente o que estamos deixando para as futuras
gerações”.
Potes devolvidos
Também o gerente administrativo Renato Salles passava adiante sua receita para tentar
minimizar a utilização do plástico: “Sou consumidor da Feira há cerca de 15 anos e
procuro, junto com minha esposa, reutilizar todo tipo de plástico. Todo sábado devolvo nas
bancas os potes de morango ou amora, comprados na semana anterior. Minhas sacolas plásticas
trago de casa. Temos que educar os mais jovens para que sigam esse mesmo caminho, enquanto
não encontramos soluções definitivas para o plástico”.
Renato Salles mostrava-se muito preocupado com outro tipo de plástico quem não tem sido
aproveitado: os potes de iogurte. “Os produtores de iogurte dizem que não têm como
reaproveitar devido a esterilização do pote”, justifica. “Mas mesmo assim trago de volta.
Tem que se achar uma saída para eles”.
Desfile de cachorros
Já, o consumidor Petrônio Angresani, de 76 anos, mostrava-se contrariado com a quantidade
de cachorros que circulam no interior da Feira, em meio à multidão de clientes. “Não é
possível, isso aqui virou um desfile de cachorros. Por que não passeiam com eles no outro
lado da rua, onde há um grande parque?”. No seu entender é necessário que os organizadores
da Feira tomem medidas urgentes para disciplinar a situação.
A campanha “Menos plástico e mais saúde” prossegue até o próximo dia 16. O cliente
ecologista deve levar para a feira qualquer tipo de embalagem. No ato da compra total na
banca, sem receber sacola, ele terá direito a uma ficha amarela. Com as fichas na mão,
ele deverá cadastrar-se na banca central. Na festa de encerramento do dia 23 de dezembro,
os clientes inscritos que tiverem o maior número de fichas ganham vales-compras nos
seguintes valores: primeiro lugar, R$ 50,00; segundo lugar, R$ 40,00; terceiro lugar,
R$ 35,00; quarto lugar, R$ 25,00 e quinto lugar, R$ 20,00.
(Por Juarez Tosi, EcoAgência, 03/12/2006)
http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=1989&Itemid=2