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2006-12-01
Por Amyra El Khalili*
Meio Ambiente não é uma pauta simples. Exige de quem relata muita atenção, pesquisa, leitura e respaldo de diversas fontes. Por se tratar de um tema inter e multidisciplinar, falar sobre meio ambiente tornou-se um ato pedagógico. É necessário traduzir os dialetos para que os mortais leitores consigam alcançar sua importância e envergadura nos debates e compreender o que isso pode significar no dia a dia de cada cidadão. O que uma coisa tem a ver com a outra, como por exemplo: O que água tem a ver com florestas?

Num país de dimensões continentais, colonizado por várias etnias e com uma cultura extrativista, é natural que as pautas ambientais sofram todo tipo de resistência, retaliações e como não poderia deixar de ser, divergências entre os modelos implantados pelas cartilhas econômicas ortodoxas que reproduzem a mentalidade de países industrializados, como preconiza o tão ambicionado "desenvolvimento sustentável".

Há de se compreender que, entre os desafios de informar, está o de educar, de conscientizar. Portanto quando nos referimos a uma mídia especializada, como são as mídias ambientais, estamos em primeiro lugar nos posicionando como "educadores". Aqueles que formarão quadros para liderar, estimular e orientar jovens para assumir responsabilidades e representar as futuras gerações. Estes que estão aí, saindo das faculdades ou entrando, à procura de empregos, outros em busca de oportunidades para estarem na mesma pirâmide social que o atual modelo de consumo aspira.

Quando as mídias ambientais procuram no seio de suas redes a estratégia para suas organizações, estão também se confrontando com o mesmo desafio que nós desta teia enfrentamos ao implantar um modelo econômico sustentável.

Há tudo por e para se fazer, uma vez que esta casa fora construída sobre uma perspectiva ultrapassada com as necessidades de consumo e capacidade de se obter a matéria prima, os insumos utilizados pela indústria, pela agricultura e comércio, extraídos predatoriamente do meio ambiente para suporta-los.

As mídias ambientais acabam por produzir uma quantidade enorme de informação, tendo que pesquisá-la, traduzi-la, estudá-la, para digerir tudo isso num menor espaço que lhe é disponibilizado na grande mídia. Quando se consegue, é disputado a tapas com as pautas convencionais para introduzi-la nos cadernos de economia, ciência, agricultura, entre outros. Mas de todos, o mais complexo e desafiador é quando este tema se cruza com finanças.

Finanças é o forrobodó do Ó
Assunto árido, chato, enfadonho e cheio de números, dados, estatísticas, curvas e percentuais. Difícil até para os mais apaixonados. Procurar uma narrativa que atraia o interesse do leitor comum, daquele que mal sabe o que a intervenção do Banco Central no mercado tem a ver com o salário mínimo. Ou se isso vai aumentar ou diminuir as tarifas de água, luz e gás , é quase uma tragédia grega. Quando há algum êxito, por menor que possa parecer, temos que comemorar com bandas e fanfarras.

No entanto tenho me deparado com relatórios, propostas e projetos 'inspirados’ em artigos, debates, informações, comentários e centenas de textos produzidos pelas mídias ambientais em redes de comunicação on line. Muitos destes trabalhos convertem-se em consultorias bem cobradas, regiamente bem pagas. Lamentavelmente sequer citam as fontes. Poderiam ao menos citar: mídias ambientais. Nem isso os incautos que se utilizam destes serviços têm coragem de fazer.

E assim caminha a humanidade. Para o abismo, evidentemente. Nem a fonte mais pura dos mananciais agüenta tanta usurpação deliberada e irresponsável desta turba. É o que chamamos de Ecoparasitismo.

As mídias ambientais têm literalmente financiado a migração do modelo neo-clássico ortodoxo para fomentar uma economia sustentável. Muitas vezes pagam e, na maioria dos casos, com voluntarismo, boa vontade, compromisso e abnegação, sem ter a contra partida dos que dela se utilizam para manter seus empregos, suas consultorias, seus cargos nos governos, seus currículos de bacharéis, mestres e PhDs. Contra partida para promover suas palestras, cursos e eventos. É uma tremenda falta de respeito com este setor que tem contribuído diuturnamente, suando em bicas para uma revolução sócio ambiental sem derramar o sangue dos outros.

Como todo projeto tem começo, meio e fim, também terá que apresentar "resultados" no curto prazo, uma hora inevitavelmente a fonte secará. O fôlego vai acabar. Quem precisou uma vez, retornará. E como águas revoltosas, as informações que municiaram tantas propostas podem se converter em números contra aqueles que não souberam dela tratar.

Será uma reviravolta contra aqueles que não souberam tratar deste "assunto"com o devido respeito e responsabilidade que estas mídias merecem. Pois democratizar a informação ambiental é, em especial, fornecer graciosamente tudo aquilo que tem custo, valor e não vem de bandeja para ninguém. Mídias ambientais também tem seu preço. Não pague para ver!

Agora, respondam: Por que as mídias ambientais deveriam continuar a financiar uma "Economia Sustentável"? Afinal, quem são os maiores interessados?
* Amyra El Khalili é economista, idealizadora & Fundadora do Projeto BECE - (sigla em inglês) Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais, com duas décadas de experiência nos Mercados Futuros e de Capitais. Membro do Conselho Editorial do Jornal do Meio e indicada para o "Prêmio 1000 Mulheres para o Nobel da Paz 2005" e para o Prêmio Bertha Lutz 2006 pela Comunidade Bahá'í do Brasil.
(Envolverde, 30/11/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=25284&edt=1

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