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2006-12-01
Se for confirmada a expectativa de migração de 100 mil pessoas para Porto Velho (RO) atraídas pelas obras de construção das usinas hidrelétricas do Jirau e Santo Antônio, o número de casos de malária poderá crescer na capital. O alerta é do pesquisador Mauro Tada, do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical de Rondônia (Cepem). No ano passado, a capital rondoniense, junto com Manaus (AM) e Cruzeiro do Sul (AC), concentrou cerca de 25% dos casos da doença no país.

“Estamos trabalhando no levantamento dos reservatórios de mosquitos e na tentativa de controlar a malária no local onde funcionará o canteiro de obras antes que a construção comece”, adiantou hoje (30) à Agência Brasil o pesquisador Mauro Tada, durante o encerramento, em Manaus, do “6º Curso de Controle Biológico”, promovido pela Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em parceria com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

“A primeira coisa que faz com que a malária tenha um aumento substancial são as migrações. Os novos assentamentos rurais ou urbanos da Amazônia normalmente estão localizados na beira dos igarapés (rios pequenos), que são criadouros de mosquitos”, explicou Tada. “Quando uma pessoa contaminada vai para o local, ela logo passa o parasita (plasmodium, causador da doença) para o mosquito, gerando uma cadeia de transmissão que torna todo mundo suscetível”.

O pesquisador disse que o inseticida usado na borrifação das casas mantém afastado o mosquito da malária durante dois meses. “Os fabricantes preconizavam que seriam seis meses de proteção, mas na prática são apenas dois. Não dá para borrifar a mesma área seis vezes por ano. Além disso, se pelo menos 80% das residências não forem borrifadas, não adianta. No máximo, serve para matar baratas”, disse Tada.

De acordo com Tada, cerca de 80% dos casos de malária no país são do tipo vivax, a menos agressiva. Ao contrário da malária falsípara, a malária vivax não mata, mas debilita o organismo. “Se receber tratamento, o doente fica sem trabalhar, com febre, dor de cabeça e crises de tremedeira durante sete dias. Sem medicamento, ele sofre por 28 dias, e depois de um mês os sintomas reaparecem, em um ciclo interminável. As perdas econômicas e sociais da malária são imensas”, afirmou.

Após uma queda entre 1999 e 2002, os casos de malária na Amazônia Legal, região que concentra 99% da ocorrência da doença no Brasil, têm aumentado nos últimos três anos. De 2004 para 2005, esse crescimento foi de 29,4%, passando de cerca de 464,3 mil doentes diagnosticados para aproximadamente 600,9 mil novos casos.

Também hoje, em Porto Velho, no distrito de Mutum Paraná, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) realizou a última consulta pública para discussão dos impactos sócio-ambientais do complexo hidrelétrico do rio Madeira. Uma das áreas que será inundada pela barragem da usina Santo Antônio é justamente o local no qual funcionará o canteiro de obras, onde hoje o Cepem realiza pesquisas de controle da malária em cinco comunidades. Essas áreas estão localizadas ao longo da ferrovia Madeira-Mamoré – empreendimento no qual grande parte dos trabalhadores morreu de malária.
(Por Thais Brianezi, Agência Brasil, 30/11/2006)
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2006/11/30/materia.2006-11-30.1553962552/view

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