Plantios de eucalipto estão secando fontes de água da Grande Vitória
2006-12-01
A intensificação dos plantios de eucalipto na região serrana do Espírito Santo vai comprometer o abastecimento de água dos moradores da Grande Vitória. Já existem relatos de que nascentes e córregos que abasteciam as bacias dos rios Jucu e Santa Maria da Vitória, que nunca secavam, depois dos plantios de eucalipto no seu entorno agora ficam sem água no período seco.
O alerta é de Leomar Honorato, um dos coordenadores do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) na região serrana capixaba. Ele afirmou que na região mais elevada de Domingos Martins "nascentes e córregos estão secos". Não secavam quando estavam protegidas da vegetação nativa, diz o agricultor.
Ele denuncia a intensificação dos plantios de eucalipto na região como um trabalho articulado da Aracruz Celulose, Incaper, Idaf e de prefeituras. Há, ainda, a parceria do Banco do Brasil, que financia os plantios. A região serrana é a bola da vez nos plantios de eucalipto, pois no norte e noroeste há forte pressão das comunidades sobre os plantios de eucalipto.
Além do impacto sobre a água que abastece as bacias dos rios Jucu e Santa Maria da Vitória, os eucaliptais estão também empobrecendo os agricultores familiares. Muitos, que sobreviviam em boas condições quando praticavam a cultura de várias espécies, como legumes, frutas e verduras. Quando passaram a plantar eucalipto, empobreceram. E já chegam a vender suas terras.
O plantio de eucalipto na região serrana começou há cerca de 20 anos. Mas o incentivo do governo do Estado, através dos órgãos da Secretaria de Estado da Agricultura (Seag), foi intensificado no atual governo.
O plantio desmesurado de eucalipto na região serrana terá influência no volume de água dos rios Jucu e Santa Maria da Vitória no prazo de cinco anos, aproximadamente, como aponta Leomar Honorato. Os efeitos então poderão ser sentidos pelos moradores da Grande Vitória. O eucalipto tem um ciclo de vida curto, de sete anos, e é voraz consumidor de água neste período.
A quantidade de água nas bacias que abastecem a Grande Vitória já vem sendo reduzida, há décadas, por causa do intenso desmatamento das matas nativas na região serrana.
Rios estão contaminados
Além da redução da quantidade, a qualidade da água das bacias dos rios Jucu e Santa Maria da Vitória é ainda degradada pelo uso intensivo de agrotóxicos e por esgotamentos não tratados de residências e indústrias.
Segundo pesquisas realizadas a pedido da Associação Barrense de Canoagem (ABC), no ano passado os rios Jucu e Santa Maria estão extremamente poluídos.
O rio Jucu tem pontos com até 47 mil coliformes fecais a cada copo de água, números apurados em fevereiro deste ano. Em 2004, o limite máximo chegou a 44 mil coliformes fecais em um copo de água.
A poluição do rio Santa Maria está 46 vezes maior que o tolerável. Em Santa Maria de Jetibá, foram registrados 46 mil coliformes fecais em um copo (100 mililitros) de água. Em Santa Leopoldina, 24 mil coliformes em 100 mililitros de água. O índice satisfatório é de 1.000 coliformes por 100 mililitros.
A pesquisa apontou a presença de enterococos (bactéria) nas águas do rio: 17.500 enterococos por 100 mililitros, o que representa 175 vezes mais que o índice satisfatório, de 100 enterococos em um copo de água, em Santa Leopoldina.
Para a gestão das bacias hidrográficas estão se estruturando comitês. Os comitês avaliam a quantidade de água e outorgam (autorizam) o seu uso a partir desta informação. Devem ainda atuar na revitalização dos rios, o que exige reflorestamento com espécies nativas e despoluição.
O rios capixabas só perdem em poluição para o Rio de Janeiro (77%) e Amapá (69%): a poluição das águas afeta 60% dos municípios do Espírito Santo, segundo dados apurados em 2002 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o Meio Ambiente.
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário – ES, 30/11/2006)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2006/novembro/30/noticiario/meio_ambiente/30_11_08.asp