Cidades amazônicas empobrecem e mudam conceito de urbanidade
2006-12-01
Impactadas pelos projetos desenvolvimentistas, as cidades amazônicas mudaram o perfil rural e se urbanizaram de maneira frenética, dando uma concepção diferente do urbano tradicional. Sem infra-estrutura, nem recursos financeiros suficientes para sustentar o contingente populacional, parte destas prefeituras hoje vivem à míngua, divididas entre o moderno e o tradicional. As fronteiras também são mais tênues. Essas constatações de pesquisadores de várias regiões do país, que percorreram os municípios da região, estão sendo avaliadas no Seminário Internacional Cidades na Floresta, que começou ontem no Hotel Regente, em Belém. A programação segue até hoje (1/12), com a participação de representantes do Ministério das Cidades, cujo objetivo é reunir informações sobre a realidade local para subsidiar políticas públicas para a Amazônia.
'Nosso objetivo é mostrar as peculiaridades de cada cidade e analisar as condições de desenvolvimento, para que possamos auxiliar na elaboração de políticas públicas mais adequadas à demanda existente', afirmou a pesquisadora da Universidade Federal do Pará (UFPA) e uma das coordenadoras do seminário, Ana Cláudia Cardoso.
Ela explica que antes as cidades rurais eram bem delimitadas, mas quando assumiram a condição de sede de municípios, por causa da instalação de projetos desenvolvimentistas, como a construção de estradas e extração de minerais, houve uma mudança muito grande nas administrações, a ponto de tornarem cidades sem condições de sê-las de fato. 'Quando chegaram os projetos, as cidades não tinham a mínima infra-estrutura para recebê-los e foram feitos investimentos para que se criasse rapidamente pelo menos uma base de apoio para os funcionários destas empresas, isso acabou gerando duas novas realidades: a dos ‘condomínios de luxo’ e outra para o restante da população que vivia na esperança de ser incluído neste processo', afirmou.
Com o intenso fluxo migratório, este processo mudou radicalmente o conceito de urbano na Amazônia. 'É a periferização das cidades urbanas. Não importa o tamanho, o que percebemos é que cada vez mais é dificil diminuir as diferenças sociais e aumentar a qualidade de vida da grande massa, principalmente em função dos interesses políticos, econômicos e culturais sobre a região', afirmou.
Diretora de apoio à gestão municipal e territorial do Ministério das Cidades e coordenadora da campanha nacional de elaboração dos Planos Diretores, Otilie Pinheiro avalia que a discussão será fundamental para o direcionamento das ações federais na Amazônia. 'A nossa proposta é elaborar políticas participativas, feitas de baixo para cima, então este seminário nos permite conhecer de fato a realidade destas cidades e a partir daí elaborar projetos e políticas públicas mais direcionados às necessidades de cada área', defenfeu Otilie. O evento é uma realização do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea/UFPA), em parceria com o Observatório de Políticas Públicas Conhecimento e Movimento Social na Amazônia (Comova).
(O Liberal – PA, 30/11/2006)
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