Esgoto contamina manancial de água que abastece bairros de Belo Horizonte
2006-12-01
Ligações clandestinas de esgoto contaminam reservatório de água da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), que abastece bairros de Belo Horizonte, entre os quais o Belvedere, na região Centro-Sul. O problema está na destinação dos detritos domésticos do Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, às margens da BR-040, na Grande BH. O material, que deveria ser canalizado para a estação de tratamento de efluentes (ETE), já construída no local, é despejado na rede de drenagem pluvial, comprometendo o lençol freático de duas áreas de preservação ambiental – Parque Estadual Serra do Rola-Moça e a Estação Ecológica Fechos – e a barragem principal do sistema de captação de Fechos.
O Instituto Estadual de Florestal (IEF) já vistoriou a área e promete denunciar a irregularidade ao Ministério Público Estadual (MPE). Segundo o coordenador de Relações Interinstitucionais do IEF no Parque Estadual Serra do Rola-Moça, Luiz Roberto Bendia, a reserva mais exposta à contaminação é a Estação Ecológica Fechos. “A galeria de drenagem pluvial, que recebe esgoto doméstico, deságua numa zona de amortecimento da unidade de conservação ambiental. Isso traz reflexos diretos para a estação, com prejuízos para o reservatório da Copasa e mananciais de toda a área”, afirma Bendia.
Segundo levantamento da Associação Comunitária do Bairro Jardim Canadá, a rede de captação construída apenas para água de chuva recebe, clandestinamente, o esgoto doméstico de pelo menos 3 mil moradores, o que significa que mais de 40% das ligações são irregulares. “A Copasa ainda não concluiu o sistema de coleta e tratamento de esgoto e a população é obrigada a usar fossas, que transbordam com as chuvas. Sem consciência da gravidade, muitas pessoas ligam o esgoto na rede pluvial e põem em risco a natureza. Quando a poluição aumenta muito, a Copasa é obrigada a suspender a captação de água do reservatório de Fechos”, diz o presidente da associação, Paulo Eustáquio de Andrade.
O mau cheiro que sai de bocas-de-lobo do Jardim Canadá denuncia as ligações clandestinas e os problemas de saneamento no bairro. Na esquina das ruas Groenlândia e Ontário, ambas sem pavimentação, o esgoto corre a céu aberto, em uma canaleta que se formou no chão, e deságua em um bueiro, quase obstruído por sacos e garrafas de plástico e folhas. “Se nossa rede de esgoto não for ligada, vamos fazer uma manifestação e fechar a BR-040. Quando chove, o esgoto se mistura à enxurrada e somos obrigados a caminhar na lama suja. Sofremos com doenças, mosquitos e com o fedor”, reclama o ajudante de mecânico José Adaílton Santos, de 22 anos, morador do bairro há quase uma década.
Mau cheiro
Na Avenida Toronto, em frente ao número 1.378, o esgoto transborda pelas frestas da tampa de um bueiro e escorre até o fim da rua, onde cai em uma galeria de drenagem pluvial. “O percurso dos resíduos domésticos é o seguinte: de dentro das casas, o esgoto sai pela rede de captação de água da chuva até a galeria, que desemboca num córrego alimentador da barragem de Fechos, do outro lado da BR-040. Acreditamos na existência de ligações clandestinas porque esse córrego deveria secar na época de estiagem, mas, abastecido por esgotos, ele nunca cessa. O mau cheiro também é prova da irregularidade”, acrescenta Luiz Roberto Bendia.
De acordo com a Copasa, o manancial de Fechos abastece, junto com os sistemas de Cercadinho e Mutuca, a Estação de Tratamento de Água do Morro Redondo. “Fechos representa 40% do volume de água tratada na estação e a Copasa faz o acompanhamento da qualidade. Se identificarmos que o nível está ruim, interrompemos a captação, que é compensada pelas outras duas bacias. A estação de tratamento de efluentes está quase pronta. Só falta a construção de uma estação elevatória e da tubulação sob a BR-040”, diz o superintendente de Coordenação e Apoio das Região Metropolitana da Copasa, Marcos Antônio Teixeira. Já foram investidos R$ 2,5 milhões na construção da estação no Jardim Canadá e a Secretaria de Planejamento de Nova Lima promete concluir o trabalho em dois meses.
(Por Glória Tupinambás, Estado de Minas, 30/11/2006)
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