(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2006-11-30
A tragédia que sacrificou milhares de peixes foi só outro expoente do descaso que há décadas ronda o Vale do Sinos.

Há poucos dias, pude conferir de perto a situação do moribundo Sinos, rio que ainda nasce limpo para depois recolher todo tipo de poluentes em sua jornada serpenteante de quase 200 quilômetros até o Delta do Jacuí. Em São Leopoldo, de tão raso, já exibe relíquias como partes de embarcações e peças de alvenaria que adornaram margens de um passado mais verde. A caminho do Verão, o rio está nas mãos de São Pedro.

A tragédia anunciada que sacrificou milhares de peixes e prejudicou a vida de pessoas que se alimentam de perigosa carne foi só outro expoente do descaso que há décadas ronda o Vale do Sinos. Com crescimento industrial, agrícola e demográfico na região, aliado a total descontrole no uso da água, o resultado não poderia ser diferente. Era questão de tempo.

Segundo o IBGE (2004), mais de 70 milhões de brasileiros não têm redes para coletar esgotos. E, dos esgotos captados, 65% não são tratados - são despejados "in natura" nos rios e no mar. Essa realidade nacional ganha cores próprias no Vale do Sinos, onde menos de 5% do esgoto cloacal recebe tratamento. O restante escorre para o rio e arroios, tornando mais cara e complexa a descontaminação da água até a torneira. Sem tratamento eficiente na bacia, as cidades rio abaixo recebem esgotos de forma cumulativa, como uma bola de neve.

Em outubro, os algozes prontamente apontados para o desastre ecológico de outubro foram empresas que já operavam na ilegalidade. Não fosse uma soma de fatores, assim continuariam. No entanto, o Sinos é sufocado há décadas não só pela poluição industrial, mas principalmente por esgotos domésticos. Nos últimos anos, a drenagem agrícola vem fazendo sua parte. A problemática ganha corpo com a destruição de valiosos banhados em toda a bacia, inclusive com a conivência de gestores públicos.

Falando neles, quem presenciou os acalorados debates pós-tragédia pode notar que pequenos políticos oportunistas nunca esquecem de tentar reerguer suas carreiras. Nem nos piores momentos. Também comentou-se após a mortandade, em São Leopoldo, com ar de surpresa: “como tinha peixe no Sinos”. Imaginem, então, se ele tivesse o vigor de anos passados.

Possíveis direções para sua recuperação seriam a implementação da chamada Agência de Bacia Hidrográfica, conforme pede a legislação federal. Ela teria dentes para emitir autorizações e controlar com mais eficácia o uso da água. Também falta a aprovação de novas regras para o saneamento básico no país. Um texto tramita há mais de dez anos no Congresso. Mas sozinha, a legislação não resolverá outros impasses, deixando nos escaninhos do Supremo Tribunal Federal a questão da "titularidade" - se o saneamento cabe, enfim, aos estados ou as municípios. E, ainda, quem pagará a enorme conta para instalar redes e tratar esgotos.

Tão importante quanto novas leis seria um verdadeiro mutirão em todo o Vale do Sinos pela recuperação de seu rio. Sociedade, setores público e privado tem a oportunidade histórica de livrar o manancial do abraço da morte.

Em 2008, não esqueçamos, eleições poderão renovar os quadros municipais. Seria bom ver nas campanhas e debates que virão ao menos uma pitada da tão necessária sustentabilidade. Bem ao contrário do que aconteceu no último pleito presidencial.
(Por Aldem Bourscheit, jornal VS, disponível em Ecoagência , 29/11/2006)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -