Objetivos do Milênio: Governos ainda estão muito atrasados
2006-11-30
Apesar de ter feito muitas promessas nos últimos seis anos, a maioria dos governos ainda não realizou ações concretas para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. “Ainda estamos muito longe de onde deveríamos estar. Estabelecemos os fundamentos para o desenvolvimento, nada mais do que isso”, disse à Assembléia Geral o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan. Os Objetivos foram fixados na sessão especial da Assembléia Geral de setembro de 2000.
Entre as metas estabelecidas na presença de numerosos chefes de Estado e de governo figuram garantir até 2015 educação universal para meninos e meninas e reduzir pela metade, em relação a 1990, a população de pobres, famintos e sem acesso à água potável nem meios para custeá-la. Outros objetivos estabelecidos pelos 189 países então integrantes da ONU são promover a igualdade de gênero, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde materna, combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças e garantir a sustentabilidade ambiental.
Nenhuma região do mundo encontra-se a caminho de alcançar todas estas metas, disse Annan, afirmando que os progressos conseguidos até agora são parciais ou confinados a determinadas regiões. Enquanto os países da Ásia-Pacífico apresentam substanciais avanços em matéria de redução da pobreza, não há sinais de mudanças qualitativas na Ásia meridional. Na América Latina houve alguns resultados sólidos, mas, somente em determinadas áreas. Segundo a ONU, mais de um bilhão de pessoas no planeta sobrevivem com menos de um dólar por dia, e outros 2,7 bilhões sobrevivem com menos de dois dólares diários, enquanto 11 milhões de meninos e meninas morrem por ano devido a doenças que podem ser prevenidas, como malária, diarréia e pneumonia.
Especialistas em desenvolvimento da ONU parecem mais preocupados com a situação na África subsaariana, onde não há indícios de progressos em nenhuma área. Atingir as metas do milênio nessa região continua sendo o “maior problema’, afirmou o administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Kemal Dervis. Para ele, apesar do substancial crescimento econômico nos últimos anos, as disparidades entre as nações continuam aumentando. Desde o começo da revolução industrial, os 10 países mais ricos do mundo ficaram 50 vezes mais prósperos do que os 10 mais pobres.
Por sua vez, Annan criticou o Norte industrializado por não cumprir suas promessas de destinar fundos para atingir as metas, mas, acrescentou que os países em desenvolvimento também devem respeitar seus próprios compromissos. “O desenvolvimento simplesmente não acontecerá se o mundo em desenvolvimento não colocar sua casa em ordem”, afirmou. Muitas nações industrializadas prometeram destinar 0,7% de seu produto interno bruto para o financiamento de programas de desenvolvimento no Sul, mas, somente uns poucos traduziram as palavras em fatos. Entretanto, embora os atuais níveis de ajuda oficial ao desenvolvimento (ODA) do Norte sejam suficientes, funcionários das Nações Unidas identificam algumas tendências positivas.
“Talvez não acabemos com a pobreza, mas estamos obtendo progressos”, afirmou a presidente da as, Haya Rashed Al Khalifa, destacando que no ano passado a ODA total atingiu, pela primeira vez, os US$ 100 bilhões. Os países doadores concordaram em destinar cerca de US$ 50 bilhões adicionais até 2010 para a ajuda ao desenvolvimento, dos quais US$ 25 bilhões iriam para a África, através do cancelamento de parte da dívida dos 20 países mais pobres, num total de US$ 81 bilhões.
Na segunda-feira, o Banco islâmico de Desenvolvimento anunciou sua disposição de criar um fundo para o alívio da pobreza com capital inicial de US$ 10 bilhões. “O fundo fornecerá financiamento de baixos juros acessíveis principalmente às 25 nações menos desenvolvidas que são membros do Banco na África e na Ásia”, anunciou o vice-presidente de operações da instituição, Amadou Boubacar Cisse.
(Por Haider Rizvi, IPS, 29/11/2006)
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