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2006-11-30
Paradoxalmente, declarar oficialmente certas espécies em risco de extinção aumenta seu valor para colecionadores e traficantes e aumenta o perigo de desaparecimento, afirmaram cientistas. O perverso desejo humano de possuir o último papagaio gigante, o último lagarto teiú ou uma orquídea “sapatinho de dama” aumenta o valor estes espécies raras. Os colecionadores estão dispostos a gastar milhares de dólares e fazer o possível, seja legal ou ilegal, para obtê-las. Isto cria um laço entre exploração e raridades que arrasas as espécies à voracidade da extinção, disseram Franck Courchamp e sua equipe de pesquisadores na última edição da publicação científica internacional PloS Biology.

“Pode ser perigoso para uma espécie ser declarada como algo difícil de se encontrar, se não pode ser protegida da exploração”, disse Courchamp à IPS desde seu escritório na Universidade de Paris Sul, na França. “Inclusive, espécies que não chamam a atenção podem se tornar valiosas somente por serem pouco encontradas”, acrescentou. Colecionadores particulares, caçadores de troféus, traficantes de animais exóticos e fabricantes de remédios tradicionais são as forças que levam as espécies à extinção. A literatura científica frequentemente é usada para identificar as próximas espécies em perigo, disse o especialista.

Imediatamente depois de ter sido reconhecido em um artigo, a pequena tartaruga Indonésia e a lagartixa chinesa como sendo raridades, seus preços dispararam no mercado de mascotes exóticas. A tartaruga está quase extinta e a lagartixa já não é encontrada no sudeste chinês, como era comum. Os traficantes de animais exóticos se dedicam a conseguir uma ampla gama de animais, que inclui orangotangos, monos, répteis, aves, gatos selvagens, aracnídeos, insetos e peixes.

A Internet também é um fator que aumenta o risco das espécies em extinção, já que facilmente conecta vendedores e compradores, afirmou Ernie Cooper, diretor de tráfico de fauna e flora no escritório canadense do Fundo Mundial para a Natureza. Um traficante pode facilmente vender 200 salamandras através da Internet, o que era muito difícil há algumas décadas, acrescentou. Há dois anos, Cooper descobriu que 50 tritons manchados de Kaiser, um batráquio ameaçado original do Irã, eram vendidos no Canadá. O ativista seguiu o rastro do vendedor canadense e chegou a um traficante ucraniano que oferecia até 200 destes animais.

“Restam menos de mil tritons de Kaiser em apenas alguns pequenos riachos do Irã”, disse Cooper. Embora esta espécie esteja protegida nesse país e colecioná-la seja ilegal, não está proibido vendê-la através da Internet. “Se não tivesse topado com o tráfico de tritons de Kaiser, essa espécie teria se extinguido antes que alguém notasse”, ressaltou. A “lista vermelha” das espécies ameaçadas da União Mundial para a Natureza (IUCN) incluiu os tritons de Kaiser “criticamente em perigo”, junto com quase 16 mil plantas e animais. Diante disto, o preço desse batráquio no mercado de animais exóticos passou de US$ 200 para US$ 400. E ainda são vendidos.

A maior autoridade científica em matéria de espécies em risco, a IUCN, não consegue oferecer nenhuma proteção legal a esses animais, lamentou Peter Galvin, do grupo ambientalista norte-americano Centro para a Diversidade Biológica. Depende de cada país adotar suas próprias leis para proteger as espécies em perigo e elaborar uma lista delas de acordo com a Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas, afirmou. “Se não há proteção legal, então seria boa idéia manter em segredo quais são as espécies sob ameaça”, ressaltou o especialista.

Entretanto, em muitos casos, divulgar quais são os animais em perigo tem sido a única forma de motivar os países a adotarem leis para protegê-las. A China aprovou medidas severas para proteger o urso panda somente depois da polêmica mundial causada por informes científicos alertando sobre o futuro dessa espécie. “Muitas nações sentem vergonha por permitir a extinção de uma espécie”, disse Galvin. Entretanto, o ambientalista considerou que em alguns casos seria melhor manter em segredo a condição de determinadas espécies.

Talvez já seja tarde para os tritons de Kaiser. Mesmo se o Irã quisesse proibir seu comércio internacional, seria um processo que demoraria um ou dois anos, e isso não é uma prioridade para Teerã, disse Cooper. Educar os colecionadores sobre as conseqüências de suas ações não funciona, pois muitos tendem a possuir personalidades obsessivas. “São, em geral, especialistas, que sabem bem que as espécies estão à beira da extinção mas desejam tê-las de todas as formas em sua coleção”, afirmou Cooper. Por sua vez, Courchamp fez experimentos sobre está compulsão humana pelas raridades. “As pessoas sempre estão interessadas no que é pouco comum. Mesmo se dois objetos são idênticos e se diz a eles que um é muito escasso, isso o converte em seu objetivo. É uma tendência muito forte”, ressaltou.
(Por Stephen Leahy, IPS, 29/11/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=25260

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