O aquecimento global e as mudanças climáticas no planeta foram os temas de abertura do 3º Encontro Nacional de Gerenciamento Costeiro (Encogerco), que se realizou de segunda-feira (27/11) até ontem (29/11) em Florianópolis. Nos próximos cem anos, a temperatura média do planeta deverá aumentar entre 3,5ºC e 5,8ºC, segundo o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), instituição criada pelas Nações Unidas em 1988 e hoje a mais importante em estudos e impactos do aquecimento global no mundo. Isso deverá provocar um aumento que varia de 30 centímetros a 1,5 metro do nível do mar, impactando diretamente nas regiões costeiras.
Os números alarmantes foram apresentados pelo secretário-executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas e consultor no assunto, Fábio Feldmann, que já foi secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e autor de parte da legislação ambiental brasileira. "Qualquer plano de gerenciamento costeiro no mundo deverá incorporar a dimensão climática, ou seja, as conseqüências do aumento da temperatura no planeta. E isso vale também para os investimentos públicos em infra-estrutura", afirmou Feldmann.
Os países industrializados são considerados os maiores poluentes do mundo, mas Feldmann lembrou que o Brasil é hoje o 4º maior responsável pela emissão de carbono na atmosfera por causa do desmatamento da Amazônia. O dióxido de carbono, resultante da queima do petróleo, é principal responsável pela redução da camada de ozônio.
Outra questão apontada por Feldmann com relação ao Brasil é que o licenciamento ambiental está sendo usado como desculpa para retardar projetos de crescimento no país. "Isso é uma mentira deslavada! O licenciamento ambiental responsável é fundamental para planejar o crescimento de forma sustentável", disse Feldmann.
Para Fábio Feldmann, hoje o principal desafio para buscar soluções para o aquecimento global é a falta de vontade e entendimento na esfera governamental dos países. "Desde que o IPCC começou a emitir relatórios sobre o impacto do aquecimento global, todas as expectativas dos pesquisadores têm sido superadas para pior. A situação é muito mais grave do que se imagina. Acredito que em no máximo dois anos alguma decisão muito séria deverá ser tomada pelos governantes mundiais, que têm o poder de decisão nas mãos e ainda não estão conduzindo o assunto com a seriedade necessária", disse Feldmann.
De acordo com o consultor, o efeito estufa já é uma realidade e não mais uma projeção para o futuro. "Os incidentes climáticos graves, como o furacão Catarina, que aconteceu aqui (2004), as ondas de calor na Europa e o degelo das calotas polares, já são conseqüências do aquecimento global", disse.
Além dos Estados Unidos, que até hoje não assinaram o Protocolo de Kyoto, a China também apresenta resistência em pactuar com a redução da emissão de gases poluentes. A economia chinesa e o nível de consumo do país vêm crescendo em ritmo acelerado. "Hoje é insustentável a China crescer no mesmo padrão de consumo dos Estados Unidos", diz Feldmann. Ele exemplificou com a taxa de automóveis por pessoa, que nos EUA é de dois automóveis para cada habitante.
Feldmann também fez um chamamento para cada cidadão do planeta, que pode contribuir para reduzir os impactos do aquecimento global com mudanças simples de hábitos e de padrão de consumo. "O consumidor é quem tem o poder de decidir sobre suas compras, escolhendo empresas ambientalmente responsáveis. A sociedade terá que rever seu padrão de consumo". Para finalizar, o consultor acredita que o aquecimento global terá o poder de mobilizar a sociedade mundial para buscar soluções concretas em função da urgência do assunto.
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Adital, 29/11/2006)