Há dois anos começou a ser desenvolvido no Brasil o programa nacional para biocombustível. Nesse
período 17 empresas se envolveram em 28 projetos que atingiram 30 mil agricultores. A previsão é
que em dois anos, 200 mil produtores estejam participando da iniciativa e que o País chegue a uma
produção de um bilhão de litros. Considerado o combustível do futuro, o biodiesel começa a
representar uma nova alternativa para a economia rural.
A soja é apontada como a principal matéria-prima para a extração do óleo vegetal, mas existe uma
série de estudos que avaliam o desempenho de outras oleaginosas para sua produção. Dentre elas estão
a mamona, algodão, dendê, pinhão-manso e girassol (veja quadro).
Enquanto pesquisadores avaliam a cultura mais indicada, produtores dos vales do Rio Pardo e Taquari
começam a realizar testes com plantas que podem render o “combustível verde”. Por meio de um projeto
desenvolvido pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), foram implantadas 22 lavouras
experimentais de girassol. A primeira delas foi plantada em agosto deste ano às margens da RST-287,
na localidade de Linha Mangueirão, no interior de Venâncio Aires. A área de um hectare começou a
florescer há cerca de duas semanas. O colorido das flores, inclusive, já chama atenção de quem passa
pela rodovia e desperta curiosidade quanto ao propósito da plantação.
Por meio da parceria, a Afubra oferece insumos e assistência técnica. Os produtores, por sua vez,
disponibilizam as terras para o plantio. Dentre os que aderiram ao programa está o agricultor Sérgio
Martins, 51 anos. Acostumado a plantar fumo, ele teve a idéia de experimentar a nova cultura
durante a Expoagro Afubra deste ano. “Vi que a mamona pode garantir o combustível, mas acabei
trocando pelo girassol depois que a Afubra fez a proposta de contribuir para o seu cultivo”, conta
ao lado da esposa Enar.
RETORNO – Quando decidiu integrar o programa, Martins, sabia que se tratava de uma experiência.
“Mesmo assim decidi participar. Minha esposa também deu a maior força”, conta. Pela proposta da
Afubra, de tudo o que for colhido, 75% será repassado ao produtor em forma de óleo ou torta –
correspondente ao que sobra do processo de esmagamento –, que pode ser usada como adubo ou ração
animal.
De acordo com o vice-presidente da Afubra, Heitor Petry, a iniciativa representa uma forma de
estimular a complementação da renda na pequena propriedade rural. Por enquanto a entidade está
custeando todas as etapas do programa, pois ainda não obteve os recursos prometidos pelo governo
federal para diversificação das áreas cultivadas com fumo. A previsão inicial era empregar R$ 187
mil. “Sem a verba federal, devemos reduzir os investimentos, mas ainda esperamos pelo governo”,
destacou.
No caso das lavouras experimentais, o custo médio estimado pela entidade é de R$ 500,00 por hectare.
O retorno, no entanto, deve ficar na faixa dos 1,8 mil quilos de semente, que podem representar
até 700 litros de óleo vegetal e torta. Em valores, segundo o técnico agricola da associação,
Natanaél Sampaio, o rendimento deve girar em torno de R$ 1 mil.
FONTES DE BIODIESEL
Soja – considerada o principal grão para extração do óleo vegetal a oleaginosa se destaca pelo
volume ofertado, mas representa apenas 20% de óleo.
Girassol – a planta tem um teor de óleo que varia de 42% a 45% e é uma boa alternativa por ter um
ciclo curto (90 a 140 dias).
Mamona – nativa da África, é rústica e oferece entre 45% e 60% de óleo. O problema é que o produto
é muito viscoso e dificulta a produção do biodiesel.
Algodão – seu teor de óleo é inferior ao das demais plantas – 13% a 32% –, mas pode representar uma
alternativa.
Dendê – tem um dos maiores rendimentos entre as oleaginosas. Pode oferecer até cinco mil quilos de
óleo por hectare. A dificuldade é a limitação produtiva, pois a planta se adapta aos climas do
Pará e da Bahia.
Pinhão-manso – seu teor varia entre 30% e 40%, proporção que o faz competir com a mamona. O que
pode dificultar o cultivo é o zoneamento agrícola, referência para as instituições financeiras
concederem crédito.
Fonte: Revista Globo Rural de novembro de 2006
ONDE TEM
Rio Pardo
Santa Cruz do Sul
Vera Cruz
Vale do Sol
Candelária
Taquari
Venâncio Aires
Vale Verde
Passo do Sobrado
Mato Leitão
Boqueirão do Leão
Barros Cassal
Gramado Xavier
Herveiras
Sinimbu
Marques de Souza
Fontoura Xavier
Doutor Ricardo
Putinga
Sério
Arvorezinha
Itapuca
Extração de óleo vegetal começa em fevereiro
A colheita da primeira lavoura de girassol deve ocorrer em janeiro do ano que vem. Depois dessa
etapa vem uma das fases consideradas mais complexas, que é a extração do óleo vegetal. A Afubra
ficará responsável por essa atividade.
Em fevereiro, durante a Expoagro Afubra, deve ser instalada na Estação Experimental da entidade em
Rincão Del Rey, Rio Pardo, uma máquina para extração do óleo vegetal. O equipamento vai ser cedido
pela Rede Evangélica Paranaense de Assistência Social (Repas).
Toda a produção dos 22 municípios vai ser beneficiada. Segundo Petry, por enquanto ainda não há
estimativas de quanto vai ser o rendimento. Entretanto, ele está confiante nos resultados. “As
lavouras estão se desenvolvendo de acordo com o esperado”, ressaltou.
A aplicação do óleo vegetal como combustível está sendo testada por uma equipe da Universidade de
Santa Cruz do Sul (Unisc). A intenção é verificar se o produto causa algum tipo de problema aos
motores a diesel. Pela proposta inicial ele vai ser utilizado na proporção de 50%, mas não há
comprovação do real desempenho. “Existem casos em que o óleo vegetal está sendo usado integralmente,
mas queremos ver qual a maneira mais indicada”, explicou Petry.
(Por Dejair Machado,
Gazeta do Sul, 28/11/2006)