Falta diálogo. Para Waldir Mantovani, professor titular e vice-diretor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP), no campus USP Leste, as questões ambientais não podem ser resolvidas por meio apenas de um enfoque disciplinar.
Segundo Mantovani, o conhecimento ambiental no Brasil tem uma lacuna enorme a ser preenchida devido à falta de integração entre a grande quantidade de especialistas de áreas diferentes. “O excesso de palpites isolados gera um cenário de extrema incompetência profissional, colocando em extinção o interesse em conhecer diferentes vertentes de problemas graves, como o desmatamento”, disse Mantovani durante o Simpósio sobre Recuperação de Áreas Degradadas com Ênfase em Matas Ciliares, realizado na semana passada, em São Paulo.
“É impossível tratar de questões ambientais apenas com base nos efeitos físicos e biológicos da natureza. Como a maior parte dos problemas é causada por pessoas, as questões ambientais estão essencialmente relacionadas com a humanidade. Entender esse processo é o obstáculo mais difícil a ser vencido pela comunidade científica”, disse.
Uma das explicações para a “crise de conservação da diversidade biológica”, derivada em boa parte pela falta de diálogo entre especialistas, seria a apropriação de saberes que não retornam para a sociedade. “O meio ambiente tem sido objeto de estudo, mas não de ações efetivas. O crescimento do número de áreas destruídas que não são sequer conhecidas é uma das conseqüências desse processo”, disse Mantovani.
Outra justificativa para o cenário estaria no próprio meio ambiente como “uma ciência multidisciplinar que ainda está em fase de construção”. Para o professor da USP, além de muitas variáveis que não podem ser controladas e dos resultados das pesquisas necessitarem de eterna vigilância – uma vez que os benefícios à natureza normalmente não são vistos em um ciclo de vida humano –, trata-se também de uma ciência “sobrecarregada de valores”.
“As pessoas se apegam a detalhes da mata ou de algum animal, por exemplo, gerando uma relação passional que prejudica as ações, enquanto os passivos ambientais deveriam ser resolvidos de maneira racional. Os interesses individuais devem ser colocados abaixo do interesse maior de conservação da biodiversidade, pois ninguém tem competência estabelecida para agir isoladamente”, disse Mantovani.
(Por Thiago Romero,
Agência Fapesp,28/11/2006)