Com quatro hiperguindastes concentrados na montagem dos últimos quatro aerogeradores da Lagoa dos Índios, a Ventos do Sul Energia está a poucos dias da conclusão do Parque Eólico de Osório. Encerrada a parte energética, ficará faltando apenas concluir o C.I., um sofisticado prédio horizontal de concreto, com mil metros quadrados, onde a Elecnor, controladora da usina de Osório, promete recepcionar ambientalistas, engenheiros, autoridades, estudantes e turistas.
O C. I. é a abreviatura do Centro Institucional, Centro de Integração ou Centro de Inteligência – o nome varia ao sabor dos ventos do Litoral Norte – onde os proprietários do Parque Eólico de Osório pretendem demonstrar sua capacidade de domar o vento e outras energias alternativas. Na prática, o C. I. será o equivalente brasileiro ao Parque Eólico Experimental Sotavento, de Navarra, na Espanha, onde um grupo de órgãos públicos e privados mantém um centro de experimentos e divulgação sobre energias alternativas.
O prazo inicial da construção do C.I. era de oito meses – tranqüilo... -- mas a Elecnor demorou a tomar uma decisão final sobre a quem delegar obra tão singular. Com especificações inusitadas para os padrões da construção civil brasileira, o C.I. foi orçado em torno de R$ 3,5 milhões pela Archel Engenharia, uma das principais empreiteiras envolvidas na construção do Parque Eólico (fez a concretagem das bases das torres). Outras construtoras também deram orçamentos considerados muito elevados pelos empreendedores espanhóis.
No fim das contas, sem conseguir reduzir os custos dos orçamentos alheios, a Elecnor decidiu assumir ela mesma a construção do prédio monumental, desenhado pelo mesmo arquiteto espanhol que criou o projeto do Sotavento, inaugurado em janeiro de 2001 na província de Galícia. Trata-se de um profissional laureado na Espanha.
Para tocar a obra, a Elecnor terceirizou diversas etapas dos serviços, tocados com estreito controle de custos, qualidade e prazos. A parceria principal é com a osoriense Arpel, sigla da Armiche Construções, responsável por uma centena de trabalhadores empenhados na tarefa.
Fundada há 15 anos pelo engenheiro civil Altair Vainer Armiche, a Arpel entrou na história da usina eólica como fornecedora de esquadrias de madeira para o centro de controle (subestação) do Parque Eólico, concluído com atraso por uma série de desinteligências entre empresas contratantes e contratadas.
No C.I., onde entrou em fins de setembro, a Arpel mantém dois arquitetos e três engenheiros, fora o próprio Armiche, que participa como co-responsável, mas fica mais na retaguarda. “Trabalhamos dia e noite para atender as exigências dos espanhóis”, diz Armiche.
Horizontal, o prédio tem um pé direito de seis metros em concreto liso. Nessas paredes não pode haver vestígio de emendas. Daí a necessidade de usar formas especiais de madeira. Há também paredes de vidro para permitir a visualização dos 75 cataventos do Parque Eólico de Osório. Além disso, serão instalados coletores solares para demonstração do potencial da energia solar. A concorrência para a instalação dos coletores solares está em andamento.
Para os profissionais envolvidos nessa obra fora de série, concluir o C. I. no final de janeiro tornou-se um desafio tão grande quanto atender as exigências de qualidade da Elecnor. Um dos fornecedores de material diz estar na parada porque acredita que poderá pegar fatias melhores na construção de outras usinas eólicas ao lado dos espanhóis. “Até agora”, diz ele, “só pegamos carne de pescoço”.
(Por Geraldo Hasse, especial para o
JornalJÁ e AmbienteJÁ, da série Diário dos Ventos, 28/11/2006)