As novas fábricas de celulose que vão instalar-se no Rio Grande do Sul deverão jogar cerca de 4 milhões de toneladas a mais, por ano, no porto de Rio Grande, o que significa cerca de 25% a mais de carga, pois o porto, atualmente, trabalha com 20 milhões de toneladas anuais. Só a Aracruz, com sua ampliação, já confirmou 1 milhão de toneladas de exportação de celulose por ano. Qual o significado disso se não forem adotadas, com urgência, medidas para garantir a continuidade das obras de ampliação dos molhes e aprofundamento do canal de navegação no porto gaúcho?
Primeiro, se formará um gargalo. Segundo, os custos do transporte duplicarão, tirando competitividade das exportações. Sem molhes e sem aprofundamento, Rio Grande continuará impedido de receber grandes navios - 100 mil toneladas - e terá que continuar a operar com os de 50 mil toneladas, nos quais os fretes são mais caros. Além do mais, se criará um congestionamento no porto, pois, ao invés de enviar a celulose num só navio de 100 mil toneladas, serão necessários dois de 50 mil toneladas para levar a mesma quantidade. Os navios ficarão mais tempo ancorados. E navio parado no porto custa entre US$ 25 mil e US$ 50 mil/dia para o armador, que transfere este custo para o frete.
Este é apenas um dos problemas que a paralisação das obras em Rio Grande vai causar para a economia do Rio Grande do Sul, do Brasil e do Mercosul, como comentaram, ontem, dirigentes da Associação Brasileira de Terminais Portuários, durante entrevista coletiva no Plaza São Rafael. O presidente da ABTP, Wilen Manteli, lançou a Frente de Apoio ao Porto de Rio Grande (Faprgs). É um movimento de apelo à união de todas as entidades empresariais - Fiergs, Federasul, Fecomércio, Farsul e outras -, sociais e políticas para conscientização sobre a importância do porto e o perigo que ele está passando de ser abandonado. "O Governo Federal está falando em desenvolver a infra-estrutura, mas quando se trata da destinação de verbas no Orçamento da União não se cita Rio Grande", disse Manteli. "O principal interessado, que é o Estado, está omisso, ninguém procura saber o que está acontecendo. Por isso, estamos fazendo esta proposta oficial de mobilização," concluiu.
(Painel Econômico - Danilo Ucha, Jornal do Comércio, 28/11/2006)