Utilizar exclusivamente produtos orgânicos e homeopáticos para o desenvolvimento da planta.
Esse foi o trabalho aplicado pelo produtor Vitor Baldasso em sua propriedade, no bairro São Paulo, como conclusão para o curso de especialização em produção orgânica, da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Os resultados desses experimentos foram apresentados por Baldasso na tarde de segunda-feira, 20, em uma espécie de dia de campo nas suas terras. Assistiram a explanação, oito pessoas, entre colegas de curso, técnicos da Emater, engenheiro agrônomos e agricultores. "É uma opção viável para sair do agrotóxico e adubo químico, fazendo alimentos de qualidade", avaliou Baldasso.
Ele apresentou os resultados com parreiras, moranguinhos, tomates, repolhos e beterrabas, comparando orgânicos e homeopáticos com convencionais. No espaço que foi trabalhado organicamente, segundo ele, teve maior crescimento, durabilidade e qualidade: "Também ajuda o processo de toda a planta, pois ela fica mais resistente e saudável, não ocasionando doenças".
Baldasso, 35 anos, que trabalha com orgânicos desde os 17, diz que o processo é uma vitória pessoal. "Temos condições de termos alimentos mais saudáveis para serem consumidos. E está comprovado que substitui perfeitamente o método tradicional".
Ele lamenta apenas que os seus morangos não tenham receptividade da comunidade: "Está difícil se dedicar para a venda, porque há dificuldade de achar um mercado que consuma. Eu tenho um monte de morangos e coloco tudo fora, porque o pessoal não compra". A produção da fruta, na propriedade de Baldasso, atinge 13 mil mudas.
Com essa especialização, a intenção dele é se dedicar a consultoria: "Vou continuar vendendo, mas com a minha formação pretendo trabalhar na área da assistência, ajudar os produtores a trabalharem sem sem agrotóxicos, e para uma empresa que assista os produtores".
VIABILIDADE
O supervisor regional da Emater Diogo Guerra elogia o trabalho de Baldasso, mas lamenta que ele não consiga comercializar os morangos: "Precisa criar uma consciência diferente da sociedade urbana, que não procura saber de onde vem o alimento. Atualmente está se pondo veneno em tudo o que é tipo de alimento, como caqui e banana, que são plantas nativas".
Diogo entende que a agroecologia é o futuro da humanidade: "É a única alternativa para viabilizar uma sociedade com alimento sadio e limpo. Isso só vai acontecer quando o consumidor urbano estiver consciente e der o devido valor. O pessoal está morrendo de tudo o que é tipo de doença, mas não muda o comportamento".
O criador de gado e ovelha Vitor Gedoz, de Torino, esteve presente no evento e pretende seguir o modelo de Baldasso: "Eu sou defensor desse princípio não só no cultivo, mas também nas criações, orque a gente enfrenta o problema de agrotóxicos em qualquer lugar. Os mesmos resíduos que você encontra na fruta ou outro cultivo, você vai encontrar no leite".
Gedoz exemplifica que uma das medidas pode ser no combate aos parasitas dos animais: "Você passa a combater ele não da forma tradicional, que é com químicos, mas de uma maneira ecológica, como a homeopatia, que é adicionada na ração ou no sal mineral ingerido pelo gado. Eu já estou trabalhando isso e funciona".
A reportagem do contexto ouviu, por telefone, esta semana, a coordenadora do curso de especialização de produção orgânica da UCS, professora Valdirene Camatti Sartori. Segundo ela, é importante que os agricultores, como Baldasso, façam esse tipo de trabalho: "Eles estão fazendo algo que outros agricultores não desenvolvem. Quanto mais trabalhos dentro da agricultura rgânica, melhor para a troca de experiências entre os próprios agricultores".
Valdirene diz que é possível aplicá-lo na prática: "Não acredito que tenha algum empecilho, apenas que o esse tipo de prática tem que se começar em pequena escala e depois ser levado em grande escala".
DIFERENÇAS
Um produto orgânico significa que foi produzido sem o uso de agrotóxicos e de adubos químicos.
Empregam-se técnicas naturais de combate às pragas, técnicas manuais de combate ao mato e adubo orgânico (sem processamento químico). Usa-se a biodiversidade natural a favor da produção agrícola, deixando que a própria natureza trabalhe junto com o ser humano.
Na agricultura convencional, aplica-se muita quantidade de químicos e tóxicos, em grandes monoculturas. São utilizados inseticidas, fungicidas e adubos químicos.
(Jornal Contexto, 24/11/2006)
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