O governo gaúcho colocou a carroça na frente dos bois, ao elaborar o Programa de Financiamento Florestal Gaúcho (Proflora), através da Caixa RS, e assinar os protocolos de implantação dos mega-projetos de celulose e papel, sem ter feito antes o competente zoneamento florestal, pressuposto imprescindível para o licenciamento ambiental. O fato preocupa a Aracruz, VPC e Stora Enso, que já tiveram de adiar de março para julho deste ano o início do plantio das mudas de eucalipto. Mesmo assim, elas estão realizando o plantio, mas em caráter precário, mediante Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público.
Os Termos de Ajustamentos de Conduta não oferecem garantia absoluta para o plantio de eucalipto. Uma vez pronto o zoneamento, previsto para o final de 2006, mas que não ficará pronto antes da metade de 2007, ele pode ainda mandar arrancar mudas em algumas regiões, segundo Renato Rostirolla, da Aracruz.
Uma das razões da polêmica, envolvendo o plantio de eucalipto no Estado, é que se trata de uma árvore exótica e carregada de preconceitos. Ela é natural, mas na Austrália de onde vem. Já as florestas da Finlândia, país da Stora Enzo, as florestas são todas nativas, embora pobres em variedades: pinheiro, abeto e bétula.
O leitor Carlos Karnas, morador de Caçapava, Vale do Paraíba, São Paulo, diz que está rodeado de plantações de eucalipto da Votorantim e que sente, no dia a dia, a diminuição dos mananciais subterrâneos. "A única explicação é a presença agressiva das florestas de eucalipto", diz, mas sem fazer afirmações categóricas.
Há muitas inverdades sobre o eucalipto, segundo o engenheiro florestal da Votorantim, Fausto de Camargo. Para começar, ele não é a única planta gaúcha exótica. Café, milho, batata e soja também são. Além disso, "o eucalipto seca menos água do que o milho e até tem sido usado para conter a desertificação", conclui.
A experiência negativa da desastrada instalação da sueca Borregaard explica grande parte da atual polêmica levantada com o anúncio dos novos investimentos na produção de papel e celulose. Mas o que foi fator de conscientização ambiental, não deve transformar-se agora em rejeição descabida para dialogar sobre eles. s
Os jornalistas gaúchos, que foram à Finlândia semana passada, a convite das empresas de celulose, confirmaram entre outras coisas a elevada carga tributária do país. Segundo o editor do jornal Kymen Sanomat, de Kotka, Markku Espo, a taxa média do Imposto de Renda é de 30%, mas pode ir a mais de 50% dependendo da renda, porque ele é progressivo, mais 22% do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), incidentes nos produtos. Porém, os contribuintes estão satisfeitos com os serviços prestados pelo Estado. Educação (incluída a universitária) e saúde são gratuitas, embora paguem 10 euros por consulta médica e 22 por dia de internação hospitalar.
(Observador - Affonso Ritter, Jornal do Comércio, 27/11/2006)
http://jcrs.uol.com.br/