Osório que se cuide. Uma administradora de condomínios de Porto Alegre está testando um sistema de geração de energia a partir da força dos ventos para economizar na conta de eletricidade dos seus edifícios.
O primeiro gerador de energia eólica foi instalado na semana passada no Centro Empresarial Eólis, localizado no número 1.942 da Avenida Carlos Gomes, em cima da caixa d'água. Com potência de três quilowatts, a turbina não tem força para desbancar os 150 megawatts do parque eólico de Osório, no Litoral Norte, um dos maiores do mundo, mas ganha pontos pelo ineditismo. Não há notícia de outro edifício brasileiro que utilize o vento para acender as luzes.
O prédio comercial ainda está em fase de acabamento e passará a receber inquilinos no início de 2007. Quando estiver em pleno funcionamento, a turbina poderá gerar até 10% da energia consumida no edifício, segundo Christian Voelcker, diretor da Auxiliadora Predial. Considerado o pai da idéia, Voelcker entende, no entanto, que a economia chegará a 50% porque os benefícios do gerador estão combinados com descontos de tarifa acertados com a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE).
Das 18h às 21h, horário de pico de consumo da rede tradicional de energia, os inquilinos não vão usar a eletricidade da CEEE, se abastecendo com o gerador eólico nesse período. Em troca, a companhia cobrará R$ 0,25 pelo quilowatt/hora (medida de consumo), em vez dos R$ 0,48 tradicionais. O investimento de R$ 50 mil deverá estar pago em menos de 10 anos, nos cálculos do diretor da administradora.
- Agora, depois de ter instalado a turbina, acho que poderíamos ter comprado uma máquina mais potente - diz, meio arrependido, Voelcker.
Endereço é local muito ventoso
O endereço foi escolhido porque é um dos pontos mais altos de Porto Alegre e, portanto, um local muito ventoso. Há um ano, quando a idéia foi lançada, Voelcker contratou o Núcleo Tecnológico de Energia e Meio Ambiente (Nutema) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) para medir a força dos ventos na região.
Com um medidor instalado num edifício vizinho - o atual centro empresarial não estava de pé ainda -, os engenheiros do Nutema confirmaram o potencial do local e ajudaram a administradora a conceber as especificações da turbina, importada dos Estados Unidos. Por enquanto, a Auxiliadora Predial não tem planos concretos de instalar outros geradores na cidade, mas admite a possibilidade de expandir o projeto no futuro.
- Depende muito da localização. Não adianta colocar onde não bate vento - resume Voelcker.
As medidas de economia luz não param por aí. O prédio também foi projetado para aproveitar o máximo de luz natural. As garagens, por exemplo, têm aberturas generosas para a rua. Um sistema de isolamento térmico também tenta aliviar o trabalho dos aparelhos de ar-condicionado, um dos maiores vilões do consumo de energia elétrica.
A economia também chega à água: o prédio terá sistema de aproveitamento da chuva e medidores individuais de consumo. As soluções devem gerar um abatimento de 60% na conta de água. Mesmo antes de entrar em operação, a iniciativa recebeu uma menção honrosa na edição deste ano do Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia (Procel) do Ministério de Minas e Energia.
Tendência é opção barata
Outro exemplo de imóvel ecologicamente responsável é o Ecovila I, localizado no bairro Vila Nova, em Porto Alegre.
O condomínio tem 30 lotes, com 17 casas já construídas seguindo princípios de preservação da natureza. José Hugo Ramos, conselheiro fiscal do empreendimento, conta que as casas têm isolamento térmico e telhado vivo (com grama plantada), para manter a temperatura agradável e dispensar o uso de ar-condicionado.
A água utilizada nas pias e chuveiros é tratada no próprio condomínio, e pode ser reutilizada nos vasos sanitários, jardins e lavagem de carros. As casas têm medidores individuais de luz e água para evitar desperdício.
A busca de energias alternativas mais baratas, acessíveis e menos poluentes é uma tendência mundial, e tema de diversas pesquisas em duas das maiores universidades gaúchas. A potencialidade dos ventos pauta o trabalho do Núcleo Tecnológico de Energia e Meio Ambiente (Nutema) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que desenvolveu diversos estudos para a implementação de parques eólicos no Estado.
A PUCRS também conta com uma fábrica-piloto de placas para produção de energia elétrica a partir da luz solar, que funciona sob a coordenação dos professores Adriano Moehlecke e Izete Zanesco.
- Em um ano e meio, teremos 200 módulos fabricados e testados - revela Izete.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) as pesquisas abrangem as energias eólica e solar. Nos laboratórios da universidade são desenvolvidos, por exemplo, projetos de microgerador de energia para residências isoladas (afastadas de centros urbanos) a partir da força do vento, sem uso de rede elétrica, e de equipamentos para armazenagem e otimização no uso da energia solar.
(Zero Hora, 25/11/2006)
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