Experiência ambiental: um estudo sobre o caminho do conhecimento na arquitetura
2006-11-27
Tipo de trabalho: Tese de Doutorado
Instituição: Departamento de Engenharia de Pordução e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina (DEPS/UFSC)
Ano: 2000
Autora: Maristela Moraes de Almeida
Contato: mar@eps.ufsc.br
Resumo:
Apresentamos aqui um estudo sobre o caminho do conhecimento na arquitetura, fruto de inquietações sobre o fazer arquitetônico, e direcionado à estruturação de um eixo integrador para os conteúdos embasadores do projeto arquitetônico. Este eixo propõe-se à unificar os fenômenos que se oferecem à atividade prática do projeto arquitetônico através da abordagem transdisciplinar dos saberes nele implicados. Se o processo criativo reside na aplicação intencional da criatividade - um saber que possuímos antes de qualquer aprendizado formal artístico ou científico - ela é fundada pelas experiências vivenciadas na nossa indissociável relação com o mundo. O corpo, sujeito destas experiências, é nosso meio primário de conhecimento deste mundo e fonte do saber da arquitetura. Entendendo como especificidade da arquitetura a qualidade de ser habitável, ou seja de viabilizar a existência caracterizadamente espacial do homem, precisamos compreender as qualidades multi-dimensionais da experiência arquitetônica. Isto significa que as representações da arquitetura - acessadas apenas visualmente - não são arquitetura, mas sim apenas uma das formas de codificá-la. E que a arquitetura guarda sua real significância no experienciamento das qualidades ambientais que provê. Esta experiência envolve o corpo na sua totalidade, resgatando dimensões fundamentadoras do próprio fenômeno arquitetônico. É a partir do corpo humano - nossa referência experiencial - como sujeito do espaço, que uma rede de relações precisa ser tecida entre a forma de apreensão da realidade, desde o sistema sensorial, passando pela percepção, até a ação objetivada. Se o mundo real, objetivo, está dado, são nossos atos intencionais, subjetivos, que criam a diversidade arquitetônica. Estes, realizadores das atividades, guardam a substância-base dos saberes arquitetônicos. Cabe, então, compreender a experiência perceptiva arquitetônica, traduzindo em significados os meios concretos que viabilizam a especialização daquelas intenções. As formas que imprimimos aos elementos arquitetônicos tem o objetivo de ordenação significativa, mediando a expressividade subjetiva das necessidades existenciais, e a comunicação objetiva da linguagem arquitetônica. Entendemos que é nesta mediação que reside a origem da composição arquitetônica. Estudando elementos de conexão entre homem e ambiente, observamos as relações entre as pessoas e seu "habitat" como experiências que permitem conhecer e interagir com o mundo. Para compreender este contexto, teremos que deixar de lado o conhecimento por redução e buscar o pensamento complexo, que, como vai dizer Morin ( 2000 p. 207 ) "é o pensamento capaz de reunir de contextualizar, de globalizar, mas, ao mesmo tempo, capaz de reconhecer o singular, o individual, o concreto". Em geral abordados em separado quando estudados, os conhecimentos com os quais lida o arquiteto são catalisados no processo de projeto. No sentido de investigar os fundamentos para a abordagem integradora que cabe ao arquiteto, desenvolvemos aqui um estudo teórico-empírico, voltado para a teoria do projeto arquitetõnico. Através da compreensão das interações dos sujeitos com o ambiente poderemos reconhecer um caminho integrador para os saberes fundamentais do projeto. Estaremos, assim, buscando o contraponto à fragmentação, investigando princípios subjacentes daqueles saberes, no sentido de identificar, como define Weil (1993, p. 35) uma transdisciplinaridade resultante "do encontro de várias disciplinas do conhecimento, em torno de uma axiomática comuni". Nesta direção acreditamos estar percorrendo um caminho inaugurado pelas investigações que nos antecedem e que pressupomos que conduza à uma conexão mais explícita entre o e'saber" e o "fazer" arquitetura. Compreender como os ambientes construidos estão mediando as atividades humanas pode ser a sondagem que permite lançar fundações seguras para uma teoria que estruture o processo de projeto arquitetõnico. Para isto, tratamos aqui de compreender a arquitetura como experiência, investigando sua qualidade essencial, a habitabilidade. Para isso, desenvolvemos de início uma reflexão sobre o sentido originário da arquitetura; seguimos através da interpretação do que a caracteriza, em essência, concretizando e mediando o relacionamento das pessoas com a natureza; perseguimos a compreensão do fenômeno de seu experienciamento- e, por fim, tecemos as "trans-relações" geradoras do conhecimento arquitetõnico. Entendendo como conhecimento tácito aquele próprio de quem faz arquitetura, buscamos neste estudo a direção de sua explicitação. Fazemos isto através de uma aproximação aos fundamentos da arquitetura, investigando uma via para a contínua transformação de conhecimento tácito em conhecimento explícito e do explícito em tácito novamente. Entendemos que a compreensão sobre a transformação do conhecimento na arquitetura pode ser acionada pela identificação de um caminho transdisciplinar que construa a competência dos profissionais de forma eficiente (projeto) e resulte eficaz (produto). A espiral transdisciplinar, formada pelas disciplinas que compõe o saber arquitetõnico é orientada pelo eixo definidor do "para quê" é cada objeto arquitetônico. A concepção assume, assim, o caráter de integração contínua, fundamentada pela ponderação entre os meios e os fins.