Leonardo Boff apela por aliança global para salvar a Terra
2006-11-24
O respeito e o cuidado com a Terra e sua diversidade permearam a palestra do teólogo Leonardo
Boff, no encerramento do VIII Seminário Estadual e VII Seminário Internacional sobre
Agroecologia, na tarde desta quinta-feira (23/11), no Auditório Dante Barone, na Assembléia
Legislativa, em Porto Alegre. No recado final, ele advertiu que a humanidade está diante de um
momento crucial no qual deve fazer uma escolha: ou se forma uma aliança global,
onde todos cuidam da Terra e também uns aos outros, ou se assistirá à
devastação da biodiversidade e a destruição dos seres humanos.
Defensor da Teologia da Libertação, Boff afirmou que a Agroecologia é uma
das manifestações mais convincentes que o ser humano está estabelecendo com a Terra. O teólogo
apresentou a Carta da Terra, documento que, segundo ele,
é um dos mais importantes do século XXI, e mostra os valores e princípios
para um futuro sustentável. Entre os princípios apresentados no documento,
expõe ainda a construção de uma sociedade democrática, justa e pacífica, a
prevenção aos danos ambientais, o avanço no estudo da sustentabilidade
ecológica, e a promoção do desenvolvimento humano de forma sustentável.
"Para salvar o planeta e as gerações futuras, devemos elaborar um novo
projeto civilizatório, pois a Terra está doente", afirmou o teólogo, ao
lembrar problemas como o aquecimento global e a poluição da água e do ar.
Entre as atitudes a serem tomadas, destacou novas formas de produção e
consumo.
Segundo o teólogo, os brasileiros padecem de três tipos de pobreza:
econômica, política e ecológica. "O Brasil tem a maior biodiversidade do
mundo, mas pouquíssimas pessoas têm responsabilidade com o ambiente.
Felizmente, parte da população já está despertando para a Agroecologia e
temos o desafio de levarmos adiante esta proposta", afirmou.
Doutror em Teologia e Filosofia, professor e escritor, Boff esteve presente
no início da reflexão que procura articular o discurso indignado frente à
miséria e à marginalização com o discurso promissor da fé cristã gênese da
conhecida Teologia da Libertação.
Com o tema "Educando para a Cidadania e o Desenvolvimento Rural
Sustentável" o VII Seminário Internacional e VIII Seminário Estadual sobre
Agroecologia recebeu um público de 1.257 pessoas durante os três dias de
realização. Vinte palestrantes do Brasil e do exterior defenderam a
Agroecologia como forma de promover a sustentabilidade ambiental. Além das
palestras e dos debates, também foi possível conferir a Feira da Biodiversidade.
Carta Agroecológica de Porto Alegre
Ao final do evento, promovido pela Emater/Ascar, foi lançada a Carta Agroecológica de Porto
Alegre, na qual os participantes do VII Seminário Internacional e VIII Seminário Estadual
sobre Agroecologia, reunidos em Porto Alegre durante os dias 21, 22 e 23 de novembro de 2006
para refletir sobre o tema "Educando para a Cidadania e o Desenvolvimento Rural Sustentável",
recomendam:
1. Que sejam fortalecidas e ampliadas políticas públicas voltadas para
a promoção dos princípios da Agroecologia, nos níveis federal, estadual e
municipal, incluindo a criação de programas de educação formal e não-formal
que fortaleçam a cidadania e o desenvolvimento rural sustentável;
2. Que sejam tomadas medidas que inibam a implantação de projetos em
larga escala de monoculturas de árvores nos diferentes biomas do Brasil,
especialmente no Bioma Pampa;
3. A aprovação do Código Estadual de Uso, Manejo e Conservação do Solo
Agrícola, assim como do Zoneamento Agroecológico do Estado do Rio Grande do
Sul, projetos estes amplamente discutidos com diferentes setores da
sociedade, inclusive em audiências públicas, e que estão em tramitação na
Assembléia Legislativa do RS;
4. Que as instituições de ensino, pesquisa e extensão incorporem de
forma crescente em suas agendas de trabalho os princípios da Agroecologia,
com um esforço em direção à inter e à transdisciplinaridade na construção
do conhecimento;
5. Que sejam tomadas medidas concretas e imediatas para resolver as
causas do grave desastre ambiental provocado pela contaminação da água do
rio dos Sinos, que provocou a morte de milhares de peixes nos últimos
meses, comprometendo a alimentação das famílias ribeirinhas de baixa renda.
6. Que os programas e projetos de desenvolvimento rural contemplem o
respeito à diversidade étnica, cultural e biológica, propondo estratégias
de trabalho diferenciadas para diferentes realidades e tipos de público;
8. Que sejam feitos todos os esforços pelas entidades realizadoras e
apoiadoras deste evento para que seja garantida a sua continuidade, com a
realização do VIII Seminário Internacional e IX Seminário Estadual em 2007,
no Rio Grande do Sul.
(Por Michelle Pereira e Raquel Aguiar, Emater/RS-Ascar, 23/11/2006)
http://www.emater.tche.br/site/inicial/ptbr/php/