Por meio de edital, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) anunciou
ontem (23/11) que pretende vistoriar entre 5 e 15 de dezembro a fazenda de Alfredo Southall,
em São Gabriel.
A notícia estremeceu a trégua imposta pela Justiça ao proibir ruralistas e sem-terra acampados
às margens da BR-290 de marchar ou ocupar a rodovia. Mas, diferentemente do que ocorreu na
terça-feira, quando os dois grupos foram impedidos pela Polícia Rodoviária Federal de se
enfrentar, a briga ontem se restringiu às palavras.
A reação dos produtores rurais foi de fúria contra o superintendente regional do Incra, Mozar
Arthur Dietrich. No entender da categoria, as vistorias de terra estariam suspensas até o
final 2007 por uma decisão judicial de outubro, que considerou a estiagem um fator capaz de
comprometer a avaliação dos índices de produtividade. Por isso, a Farsul pretende exigir do
representante do Incra indenização por danos morais e cogita de pedir sua prisão.
- Ele desrespeitou uma ordem judicial e está alimentando aqui um conflito de classe. Parece
que deseja que haja um confronto de guerrilha - afirmou o presidente do Sindicato Rural de São
Gabriel, Tarso Teixeira.
A medida do Incra pode interferir na venda de 6,3 mil hectares da fazenda à Aracruz Celulose.
A negociação entre a empresa e o fazendeiro está fechada (ele receberia cerca de R$ 3,5 mil
por hectare). Um adiantamento da empresa permitiria que até o dia 30 de novembro ele saldasse
dívidas no valor de aproximadamente R$ 12 milhões. Desta forma, Southall garantiria as
certidões necessárias para escriturar a venda de praticamente metade da propriedade.
- Esta venda é uma tática para nos desmobilizar. Não vamos recuar até entrarmos na fazenda do
Southall - disse Irma Ostroski, uma das líderes dos sem-terra.
Na avaliação do superintendente do Incra, a venda das terras estaria impedida por seis meses
desde o dia 6 de novembro, quando Southall foi informado pela primeira vez da vistoria.
- A decisão favorável à Farsul não tinha efeito até que se esgotem nossos recursos. Nossos
atos estão guarnecidos por uma decisão de 2005 do Superior Tribunal de Justiça - sustenta
Dietrich.
O Incra nega que a notificação de ontem tenha relação direta com o anúncio da venda das terras
ou com a proibição das marchas na BR-290.
- Quem produz pode ficar tranqüilo, pois não há perseguição. Quanto ao processo contra mim, a
Farsul deve saber o que está fazendo, pois vai ter de provar as acusações - complementa.
(Por Rodrigo Cavalheiro,
Zero
Hora, 24/11/2006)