Esponjas de água doce causaram "cegueira" do Araguaia
2006-11-24
As lesões nos olhos registradas em cerca de 300 crianças em idade escolar de Araguatins (691 km de Palmas), que se banharam nas águas do rio Araguaia, foram causadas por esponjas de água doce. Essa é a principal conclusão da pesquisa coordenada pela professora Cecilia Volkmer-Ribeiro, do Museu de Ciências Naturais do Rio Grande do Sul, que deve ter os primeiros resultados publicados dentro de um mês.
De acordo com a pesquisa, a entrada de espículas --pequenas estruturas compostas de sílica que sustentam as esponjas-- nos olhos dos banhistas vinham causando o surto, que chegou a gerar perda de visão em pelo menos três pacientes.
"É como ter uma agulhazinha de vidro dentro do olho", afirmou Ribeiro. As crianças são mais atingidas por abrirem mais os olhos na água. Ao coçarem o local, agravam a lesão gerada pelo corpo estranho.
Registrado na penúltima temporada de praias na região (que vai de meados de abril a outubro, segundo Ribeiro), o surto levou à proibição dos banhos no trecho atingido. Mesmo assim, cerca de 50 pessoas já foram atendidas com lesões nos últimos meses, segundo a pesquisadora.
As esponjas não estavam inicialmente entre as hipóteses levantadas pelo Ministério da Saúde. Segundo Ribeiro, a pesquisa --realizada por meio de uma parceria de diversos órgãos públicos-- já foi enviado à pasta. O ministério aguarda a publicação dos resultados para se pronunciar.
A pesquisa aponta que Araguatins --que tem cerca de 27 mil habitantes-- não conta com tratamento de esgoto, o que favorece a proliferação de caramujos. Esses animais "raspam" as pedras do leito do rio, o que impede, no trecho, a fixação das esponjas trazidas pela correnteza. A dificuldade de fixação aumenta a concentração de espículas na água.
Como provável motivo para o surto ter ocorrido em 2005, a pesquisa aponta a seca que atingiu os rios da região amazônica no período. A menor vazão do Araguaia teria ampliado ainda mais a concentração das "agulhas" no local.
(Por Francisco Figueiredo, Folha de S. Paulo, 23/11/2006)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u128561.shtml