Desmate pode acabar com a água do Mato Grosso
2006-11-24
As cabeceiras de diversos rios que compõem as bacias hidrográficas de Mato Grosso atingem índices entre 32% e 43% de desmatamento. Se o problema ambiental não for contornado, nos próximos 10 anos haverá queda da qualidade e escassez de água. A conclusão surgiu a partir da análise de imagens de satélite feita por pesquisadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Instituto Centro de Vida (ICV).
Segundo o coordenador adjunto do ICV, Laurent Micol, que é especialista em Gestão Ambiental, a macrobacia do Amazonas, a maior do mundo, que ocupa 66% do Estado e era composta principalmente de floresta amazônica, teve 32% de sua área desmatada no Estado. Algumas partes estão piores do que outras, como a microbacia do Teles Pires, com 46% de perda. "Diversas nascentes já foram desmatadas. Não há mata ciliar, nem reserva legal. A erosão e o assoreamento são visíveis".
Um dos motivos para o avanço do desmatamento apontado pelos pesquisadores é a falta de unidades de conservação na região, isto é, a fiscalização é precária. Apenas 9% das terras estão protegidas nessa bacia. Uma dessas unidades, o Parque Estadual do Cristalino, pode ser reduzida em até 25 mil hectares se uma proposta em trâmite na Assembléia Legislativa do Estado for aprovada.
Outra questão que envolve o Teles Pires é acompanhar o traçado da BR-163, de Cuiabá a Santarém, um inevitável eixo de ocupação humana. Apesar de ser conhecido como "Estado das águas", por conter importantes nascentes brasileiras, como as dos Rios Paraguai, Araguaia, Tapajós, Xingu e Guaporé, o desmatamento ilegal no Estado atingiu 88% no mês passado. A busca desenfreada por produtividade no campo, na avaliação de Micol, desencadeará problemas bastante difíceis de se resolverem em longo prazo.
Na microbacia do Xingu, por exemplo, 32% da cobertura vegetal foi derrubada. É menos do que a microbacia de Teles Pires, mas ao olhar uma imagem de satélite dá para perceber que, sem o Parque Indígena do Xingu, a situação poderia ser ainda pior. "Pelo menos 460 mil habitantes, índio e não índios, já sofrem com o fornecimento precário de água na região".
Já a microbacia de Aripuanã tem índice de 11% de desmatamento, o que seria um bom número se a área não registrasse, nos últimos anos, algumas das maiores taxas de desmatamento. Para piorar, atinge floresta e cerrado - outro bioma importante na geografia mato-grossense. Na bacia do Paraguai, onde se insere o Pantanal, 43% da área já foi desmatada. Na do Araguaia, o índice é de 42%.
O projeto de monitoramento técnico da Imazon, com sede em Belém (PA), e do ICV, que funciona em Cuiabá, teve início esse ano. O primeiro boletim informativo foi divulgado no dia 1º de agosto. A análise das bacias hidrográficas já faz parte de um 3º estudo. Além dos dados via satélite, também foram utilizadas informações dos próprios órgãos ambientais do Estado, como a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema).
Outro lado
A equipe de reportagem tentou contato sem sucesso até o fechamento da matéria com a assessoria de imprensa da Sema.
(Por Rose Domingues, Gazeta de Cuiabá, 23/11/2006)
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