Usina movida a lixo garante energia limpa e mais barata
2006-11-24
Qual a imagem que vem quando se fala em visitar um aterro sanitário? Montanhas de lixo, nuvens de moscas, odor insuportável, principalmente se for num dia de sol escaldante, certo? Errado, se a visita for realizada no Aterro Sanitário Bandeirantes, em Perus, São Paulo, para onde é levada quase metade do lixo da capital paulistana diariamente, e hoje transformado em Usina Termoelétrica Bandeirantes. Claro que se podem ver algumas montanhas de lixo sendo despejado, mas isso acontece com organização, sem moscas, praticamente sem cheiro algum e numa área que parece um terreno qualquer, gramado, com tubulações próprias do local.
O cenário nem sempre foi assim. Em funcionamento desde 1976, foi a partir de 2003 que essa área de 140 hectares ganhou esse layout diferente. A operação nos moldes atuais teve início em janeiro de 2004. Ao contrário da época em que a comunidade local e até quem transitava pela Rodovia dos Bandeirantes podiam sentir o odor forte e ruim à distância, o aterro hoje está integrado de forma satisfatória à vida da comunidade como se fosse uma extensa área industrial. Até o barulho dos 24 geradores de última geração instalados no local é mínimo e está concentrado no terreno da usina.
Grande parte da responsabilidade nessa guinada de imagem da área é do Unibanco, que vislumbrou quatro anos atrás uma oportunidade de investimento que conjuga responsabilidade sócio-ambiental com obtenção de energia mais barata. O projeto envolve parceria com a prefeitura de São Paulo, proprietária do aterro, e com a Biogás Energia Ambiental, responsável pela manutenção da usina.
O funcionamento da Usina Termoelétrica Bandeirantes é fácil de ser compreendido. Ela capta o gás metano emitido no aterro e gerado pela decomposição dos resíduos. Ele então passa por tratamento e é queimado pelo grupo de geradores.
Ao final dessas etapas, o sistema permite resgatar o CO2 da atmosfera. O biogás, transformado em vapor, é canalizado para as estações de energia da Eletropaulo e distribuído para os cinco prédios administrativos do Unibanco, em São Paulo. A meta da instituição com o investimento na usina é reduzir em 20% seu consumo de energia nos prédios, mas esse percentual ainda não foi alcançado.
A produção mensal é de 20 mil kW, quantidade suficiente para abastecer uma cidade de 400 mil habitantes. A produção de biogás da usina serve ainda para abastecer a comunidade de Perus, seguindo o compromisso social firmado entre as partes no ato de concretização do projeto, segundo a empresa. A usina também produz créditos de carbono, comercializados com empresas de países desenvolvidos, que são mobilizados em ajustar suas emissões de gases para o cumprimento do Tratado de Kyoto.
A Usina Termoelétrica Bandeirantes é a maior do mundo dentro dessa modalidade e a primeira do gênero no Brasil. Seu funcionamento ê o resultado obtido ao longo desses últimos anos em que o projeto foi implantado têm atraído a visita de representantes de governos e empresas de outros países, como Holanda e Índia, entre outros, o que motivou, inclusive, a construção de um heliponto no local. A usina opera 24 horas por dia.
Ao todo, a usina emprega 52 funcionários diretos, dos quais 20 moram na própria comunidade - alguns vão para o trabalho a pé. Além das melhorias empreendidas para a erradicação de moscas e odor e na imagem do aterro, a usina participa de um programa de alfabetização, que contempla alguns de seus trabalhadores.
Além disso, a usina realizou também investimento na construção de uma ampla área de lazer na comunidade, composta por mais de 120 mil moradores, com brinquedos para crianças e uma pequena quadra. Desde o início de sua concepção, o projeto teve como foco agregar a atividade econômica e benefícios em diversas frentes.
O impacto dessas benfeitorias locais e da transformação do aterro numa usina limpa, produtiva e importante acabou por se estender à questão imobiliária. Um terreno ou casa próximos ao aterro nos moldes de sua operação do passado pura e simplesmente sofriam desvalorização, fato revertido hoje em dia, devido às atuais características do empreendimento.
(Por Margareth Boarini, Valor Online, 23/11/2006)
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