União Européia pressiona novos sócios por energias limpas
2006-11-24
Dois reatores da usina nuclear de Kozloduy, na Bulgária, serão fechadas no dia 31 de dezembro por serem considerados perigosos. E bem a tempo, já que no dia seguinte a Bulgária integrará a União Européia junto com sua vizinha Romênia. Uma das condições para fazerem parte do bloco europeu era o fechamento de Kozloduy, uma das instalações mais controvertidas de seu tipo. Situada cerca de 200 quilômetros ao norte de Sofia, às margens do rio Danúbio e perto da fronteira romena, Kozloduy chegou a ter seis reatores atômicos de fabricação soviética e forneceu eletricidade barata tanto para a Bulgária quanto a países vizinhos.
Depois que a UE e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) declararam o complexo “impossível de ser atualizado a um custo razoável”, o governo búlgaro fechou os primeiros dois reatores de 440 megawatts em 1992. A data-limite para fechar outros dois é 31 de dezembro. Estes pertenciam à primeira geração de reatores soviéticos. Os dois restantes, mais modernos e seguros, com capacidade para produzir mil megawatts, continuarão operando. Mas, embora o fechamento dos reatores mais antigos tenha sido elogiado pela União Européia e por ambientalistas locais e internacionais, especialistas alertam que o fechamento causara graves problemas energéticos na região.
“Nossa pesquisa faz prever que nos próximos três anos o sudeste da Europa enfrentará escassez de energia, apagões e um encarecimento do preço da energia elétrica”, afirmou em um informe a influente organização Energyobserver. “A Bulgária foi exportadora tradicional para Albânia, Grécia, Macedônia, Montenegro, Sérvia, Romênia e outros países. Uma análise preliminar mostra que o fechamento dos dois reatores de Kozloduy reduzirá suas exportações totais ao nível das atuais vendas para a Grécia”, escreveu o especialista Dejan Stojadinovic em seu informe da Energyobserver.
“Isto é de particular importância em um momento em que as economias da maioria dos países da região finalmente estão crescendo a um ritmo constante de 5%, 6% ou mais, e as necessidades de consumo de eletricidade aumentem ao ritmo anual de 5%”, disse à IPS a especialista em energia Sijka Pistolova. “Para estas nações é um problema encontrar uma alternativa, já que apenas há alguma”, acrescentou. Nenhum país dos Bálcãs, região com 55 milhões de habitantes, tem suficiente produção elétrica. O fechamento dos reatores três e quatro de Kozloduy derivará no consumo de aproximadamente 40% das reservas de eletricidade que Albânia, Macedônia, Montenegro e Kosovo usam para cobrir seu déficit energético, segundo o boletim industrial Platts.
Os países que integravam a antiga Iugoslávia, com Sérvia ou Montenegro, atravessaram guerras devastadoras nos anos 90. Nelas não foram construídas novas usinas, e as velhas foram exploradas ao limite de sua capacidade. Outras nações, como Albânia ou Macedônia, viveram uma difícil transição para a economia de mercado que deixou poucos recursos para a manutenção das capacidades existentes. Todos os países ficaram com velhas centrais elétricas alimentadas a carvão e alguns sistemas hidrelétricos que precisam ser reconstruídos. Com base fundamentalmente nos fornecimentos da Bulgária, o maior exportador da região, os países balcânicos criaram uma zona de livre comércio de energia há apenas um par de anos.
A usina de Kozloduy habilitou a Bulgária atender 40% de suas necessidades internas e exportar 20% da eletricidade que produzia. O ministro búlgaro de Economia e Energia, Rúmen Ovcharov, pediu na semana passada à UE que reconsiderasse o fechamento de Kozloduy devido ao “pânico” e às “trágicas conseqüências” que isto pode gerar na região. O relator do Parlamento Europeu para a Bulgária, Geoffrey van Orden, pediu “maior flexibilidade” do bloco.
Por sua vez, as parlamentares européias Romana Jordan Cizelj, da Eslovênia, e Edit Herczog, da Hungria, fizeram um pedido semelhante, argumentando sobre a necessidade de garantir a estabilidade regional, e propuseram que o prazo para o fechamento da usina se estenda até o final de agosto de 2007. “Atualmente, a Bulgária exporta eletricidade para todos seus vizinhos. Mesmo permitindo uma limitada geração de substituição por parte de usinas de carvão altamente poluentes, seguramente haverá cortes de energia na região”, afirmaram as parlamentares em uma declaração. Além dos apagões, que no ano passado duraram 10 horas por dia na Albânia e na província sérvia de Kosovo, o aumento dos preços da eletricidade também é um problema. Os cálculos mais modestos prevêem uma alta de, no mínimo, 20%.
(IPS, com informações do Observatório do Clima, 23/11/2006)
http://www.carbonobrasil.com/noticias.asp?iNoticia=16288&iTipo=6&idioma=1