Parque eólico faz surgir microempresas em Osório
2006-11-23
Enedir Viana Lopes, 40 anos, caçula dos oito filhos do mais humilde sócio do Parque Eólico de Osório – uma fazendola de 40 hectares “premiada” com a bagatela de 2,5 cata-ventos - está dando as últimas marteladas na
construção onde espera fazer funcionar dentro de alguns dias o Café do
Parque. “Vamos ver se beliscamos alguma coisa”, diz Enedir, animado com o movimento de curiosos nas redondezas.
O investimento é modesto, mas a localização é estupenda. O galpão rústico
feito de uma mescla de alvenaria, madeira e vidro fica dentro do Parque
Eólico, ao lado do portão principal, no que se poderia chamar “a esquina dos ventos”: o T onde se encontram a Estrada Afonso Cardoso e a antiga Estrada do Retiro, recentemente rebatizada como Estrada Ventos do Sul.
Aqui o filho do Seu Cristiano pretende servir de água mineral a arroz de
carreteiro, passando por chimarrão, rapadura e cachaça artesanal do litoral.
O carreteiro, como a carne de panela e o feijão tropeiro, será feito em
fogão campeiro, com lenha e água tirada do poço com 13 metros de
profundidade.
Só não está funcionando ainda porque a CEEE não ligou a luz. Há semanas a
estatal promete puxar o fio, mas adia a operação alegando a falta de um
transformador para baixar a tensão da rede. Enedir teme ter de fazer como o pai, anos atrás. Para ter luz na fazendola, o velho Cristiano bancou a
compra do transformador, na esperança de ser reembolsado depois pela CEEE. “Até hoje o velho está esperando o cumprimento da promessa”, diz Enedir.
Na mesma situação – esperando a luz - está o vizinho Celso Oliveira, que
iniciou um boteco há vários meses, no terreno em frente. Só que em vez de ir à CEEE, ele foi à Prefeitura pedir o Luz Para Todos, do Ministério de Minas e Energia. Também está na mão.
É uma situação paradoxal. Os dois microempreendedores investiram suas
últimas economias num sonho de ocasião e agora se perguntam se vão ficar no escuro enquanto o revolucionário Parque Eólico de Osório caminha
gloriosamente para a inauguração, dentro de algumas semanas, sob torrentes da energia mais limpa do mundo.
Reta final
Desse privilegiado ponto onde nascem o boteco do Celso e o bar-café do
Enedir pode-se ver o rush final da construção da última etapa da usina, na
Lagoa dos Índios. Ali já se avistam 18 cataventos prontos, dois geradores
encarapitados em suas torres aguardam a colocação das pás e há ainda mais
uma torre pronta. Finalmente, as últimas quatro torres estão saindo do chão.
Depois que os últimos 25 cataventos entrarem em operação, só ficará
faltando concluir o centro institucional, um sofisticado prédio horizontal
de concreto, com mil metros quadrados, onde a direção do Parque Eólico de Osório promete recepcionar cientistas, autoridades, estudantes e turistas.
(Por Geraldo Hasse, exclusivo para o AmbienteJÁ e JornalJÁ, da série
Diário dos Ventos, 22/11/206)