Uma boa notícia para o agronegócio brasileiro, principalmente para aqueles que investem nos produtos orgânicos. Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCFRP) de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) conseguiram resultados positivos na identificação de linhagens do fungo Metarhizium anisopliae mais tolerantes à radiação, para melhorá-lo geneticamente e torná-lo mais eficiente no controle biológico de insetos.
O fungo é largamente utilizado como bioinseticida, e o intuito é identificar as características que o torna mais resistentes para criar linhagens de Metarhizium mais apropriadas para a utilização em um país tropical como o Brasil.
O fungo é utilizado no controle de mosquitos e barbeiros, transmissores de importantes doenças comuns em países em desenvolvimento, de pragas agrícolas em culturas de grande interesse econômico, como cana-de-açúcar, café, arroz e em pastagens, e no controle de carrapatos, que causam prejuízos enormes à pecuária brasileira.
Segundo especialistas, o setor de produtos orgânicos representa um dos mercados que mais crescem no mundo, cerca de 30% ao ano. São US$ 30 bilhões, sendo US$ 500 milhões ao ano só no Brasil.
"O fungo é uma opção aos produtos químicos que agridem o meio ambiente e afetam a saúde de trabalhadores e consumidores de produtos agrícolas. Porém, ele é muito sensível à luz solar. Exposições diretas por poucas horas são capazes de matá-lo com facilidade", explica o professor Gilberto Úbida Leite Braga, coordenador da pesquisa. "Deste modo, pretendemos minimizar a necessidade de reaplicação do organismo no campo. Isso tornaria o seu uso como bioinseticida mais prático, barato e eficiente."
Resistência à radiação
Os pesquisadores avaliaram linhagens do fungo provenientes de diversos locais do mundo, como de regiões próximas à Antártida, da Austrália, Estados Unidos e Brasil. Eles concluíram que aquelas provenientes de regiões equatoriais são naturalmente mais tolerantes à radiação solar do que as de regiões tropicais e temperadas. As mais expostas à radiação solar, que estão em campos e culturas agrícolas, são mais tolerantes do que as provenientes de locais mais protegidos, como as florestas.
"Buscamos identificar agora quais são as características celulares e genéticas que conferem a elas maior tolerância. Com o aumento da sua permanência no ambiente somente por algumas horas já haverá um ganho suficiente de tempo para a infecção e o controle do inseto", afirma Braga. "O desafio é criar linhagens que sobrevivam nas condições encontradas na pele de um animal, no combate a carrapatos; na superfície exposta de um corpo de água, para o controle de larvas de mosquitos, ou em uma folha para controlar pragas agrícolas" ressalta o pesquisador.
Os pesquisadores sabem que os conídios são as células nos fungos responsáveis pela reprodução, dispersão e persistência ambiental de diversas espécies. Nas patogênicas, eles também são responsáveis pela infecção do hospedeiro. "A identificação dos genes envolvidos na tolerância dos conídios à radiação solar contribuirá para o melhor entendimento da persistência e dispersão de espécies patogênicas no meio ambiente, e também para obter as linhagens mais resistentes que almejamos para o controle de insetos" afirma Braga.
O pesquisador conta que ainda não foi produzida uma linhagem para fins comerciais. "O objetivo principal de nossa pesquisa é o melhor entendimento da biologia do fungo e a identificação dos genes envolvidos na proteção dos conídios contra fatores ambientais geradores de estresse, como a radiação solar" conclui.
(Com informações da Assessoria de Imprensa da USP de Ribeirão Preto,
Agência USP, 23/11/2006)