Voluntários plantam mudas de palmito para recuperar mata na margem de rio em Florianópolis
2006-11-22
Gabriel Thiesen, 21 anos, gaúcho de Porto Alegre, residente em Florianópolis desde 1991, apanhou um ônibus ontem de manhã no Centro com destino ao bairro Monte Verde. "Não conhecia esse lugar. É muito bonito", disse, enquanto terminava o plantio de uma muda de palmito nas margens do rio Pau do Barco, onde a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) capta a água que, depois de tratada, é distribuída para a população local.
Ele foi um dos cerca de 50 voluntários mobilizados pela Cooperativa Mãos na Mata, visando o plantio de aproximadamente 300 mudas de espécies nativas, sendo 70% de palmitos. O trabalho da entidade é desenvolvido em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), usando parte dos recursos da medida compensatória pelo impacto da construção de um centro comercial na região.
Os participantes da operação realizada durante todo o dia de ontem se reuniram, por volta das 8h30, em frente ao Colégio Lauro Lima, seguindo depois para a área de captação. "Os palmitos estão sumidos dessa floresta há muito tempo", conta Marines dos Santos, 21 anos, residente no bairro Monte Verde e coordenadora dos monitores treinados pela Mãos na Mata para a execução do trabalho.
Além do plantio de espécies nativas em mudas, os voluntários espalharam cerca de dez quilos de sementes de palmito (Jussara) pela floresta local, através do sistema de lanço. "Dentro de um ano, mais ou menos, essas sementes já terão brotado e faremos um acompanhamento do seu desenvolvimento", explica Marines. "Com seis ou sete anos elas estarão dando frutos", complementa.
Também foram instalados poleiros artificiais em diferentes pontos da região - uma técnica que usa varas de bambu armadas com pedaços menores amarrados transversalmente, se assemelhando aos ramos de árvores de diferentes alturas. A medida é usada normalmente na restauração de florestas, por atrair aves que, por sua vez, atuam na propagação das sementes.
Todos os jovens que participam do plantio têm uma pré-capacitação, onde são ensinados os cuidados necessários para um melhor trabalho e a necessidade de eventos como esse na recuperação das florestas. Ontem foi a segunda vez que eles se reuniram para ajudar na recuperação da área, "pois só quando a gente abre a torneira e vê que não tem água é que valoriza esse bem tão precioso", destaca Marines.
Projeto busca recuperação de matas
A Cooperativa Mãos da Mata é dirigida pela engenheira agrônoma Adriana Dias, que desde os tempos de estudante se envolve com as florestas da região. "Nosso objetivo é trabalhar a recuperação das nossas matas e trabalhar o turismo e o mercado sustentáveis, envolvendo principalmente os jovens nas atividades", disse.
Com o slogan "Floresta e renda", a Cooperativa desenvolve um projeto de geração de renda, principalmente com jovens dos bairros Saco Grande e Monte Verde. "Nosso objetivo é criar oportunidades de trabalho, recuperar as florestas e despertar para uma consciência ecológica", destaca Adriana. Os primeiros resultados serão mostrados em dezembro, com o lançamento de uma linha de biojóias, feitas com sementes coletadas em florestas.
O cipó-imbé, usado tradicionalmente na confecção de objetos como balaios e cestos, também é alvo do Mãos na Mata, junto com o plantio e estímulo do uso da medicina caseira. "Em breve iniciaremos cursos para os cooperados nas áreas de produção de biojóias, de objetos com cipós nativos, de óleos essenciais, plantas medicinais, sementes e mudas", acrescenta.
Os integrantes da Cooperativa também poderão ser capacitados na prestação de serviços de recuperação e restauração ambiental, guias turísticos preocupados com o turismo sustentável e de design integral para produtos da floresta. Todos os produtos ganharão a marca Mãos na Mata, cabendo à Cooperativa a comercialização nos mercados locais, estaduais, nacionais e de outros países.
(Por Celso Martins, A Notícia – SC, 22/11/2006)
http://an.uol.com.br/ancapital/2006/nov/22/1ger.jsp