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2006-11-22
Uma análise de imagens de satélite feita por pesquisadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Instituto Centro de Vida (ICV) mostra que as bacias hidrográficas de Mato Grosso já perderam de 32% a 43% de sua cobertura vegetal original.

Paradoxalmente, o Mato Grosso é chamado de “o Estado das águas” por conter importantes nascentes brasileiras, como as dos Rios Paraguai, Araguaia, Tapajós, Xingu e Guaporé. Sem cuidado, pode-se repetir ali o erro que produtores do Sul, Sudeste e Nordeste, regiões antes cobertas por mata atlântica, conhecem bem: retirar a vegetação até a beira de rios para aumentar a produtividade desencadeia problemas no longo prazo.

“Quando se analisam dados de desmatamento, a gente sempre olha os números por municípios. Mas, do ponto de vista ambiental, pode ser mais interessante olhar por bacia”, diz Adalberto Veríssimo, do Imazon.

A macrobacia do Amazonas (a maior do mundo), que ocupa 66% do Estado e era composta principalmente de floresta amazônica, teve 32% de sua área desmatada no Mato Grosso. Algumas partes estão piores do que outras, como a microbacia do Teles Pires, com 46% de perda. “Muitas nascentes já foram desmatadas. Não há mata ciliar, não há reserva legal. A erosão e o assoreamento são visíveis”, conta o presidente do ICV, Sérgio Guimarães, um dos autores da análise.

Um dos motivos apontados pelos pesquisadores é a falta de unidades de conservação na região, que ajudam a barrar o avanço do desmatamento. Apenas 9% das terras estão protegidas nessa bacia. Uma dessas unidades, o Parque Estadual do Cristalino, pode ser reduzida em até 25 mil hectares se uma proposta em trâmite na Assembléia Legislativa do Estado for aprovada.

Na microbacia do Xingu, 32% foram desmatados. É muito menos do que a microbacia de Teles Pires, mas é só deixar o número de lado e olhar uma imagem de satélite para perceber que, sem o Parque Indígena do Xingu, a situação poderia ser ainda pior.

A derrubada no entorno do parque ameaça o fornecimento de água para os 460 mil habitantes da região - índios e não índios. Uma campanha do Instituto Socioambiental tenta proteger e recuperar as nascentes e matas ciliares da bacia, com a modelo Gisele Bündchen como garota-propaganda (leia texto acima).

Já a microbacia de Aripuanã tem índice de 11% de desmatamento, o melhor da bacia do Amazonas. Seria bom se a área não registrasse, nos últimos anos, algumas das maiores taxas de derrubada do Estado. “Aripuanã é que sofre a maior pressão dos desmatadores hoje em dia”, diz Guimarães. O desmatamento não é localizado apenas na floresta e atinge também o cerrado - outro bioma importante na geografia mato-grossense. Na bacia do Paraguai, onde se insere o Pantanal, 43% da área já foi desmatada. Na do Araguaia, o índice é de 42%. Os números são de 2005.

Afluentes
Segundo Veríssimo, o maior problema está nos rios tributários (afluentes), não nos principais: “São redes enormes de drenagem. Nos tributários, não há problemas de inundação e existe uma concentração grande de pessoas.” Ele promete análises detalhadas das microbacias de Mato Grosso nos próximos meses, com dados como status das áreas de proteção permanente.

Os autores acham que os mapas podem ser usados em estudos qualitativos de cientistas locais para medir o impacto do desmatamento e ajudar na formação de políticas públicas que preservem e recuperem as matas. Segundo eles, ainda há tempo antes que a situação em Mato Grosso seja tão crítica quanto em Estados que já tiveram sua vegetação esgotada. “Este estudo é um sinal amarelo”, diz Veríssimo.

Essa é a primeira análise de bacias dentro de um projeto independente de monitoramento por satélite da Amazônia (os existentes hoje são ligados ao governo federal e ao estadual). Tais informações entrarão em cada boletim mensal, além de outros dados, como a emissão de carbono pela conversão de floresta em pasto ou plantação. Por ora, o sistema funciona só para Mato Grosso, mas a intenção é ampliá-lo para todos os Estados amazônicos quando entrarem novas fontes de financiamento. O próximo é o Pará.
(Por Cristina Amorim, O Estado de S. Paulo, 21/11/2006)
http://www.estado.com.br/editorias/2006/11/21/ger-1.93.7.20061121.1.1.xml

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