Rússia omite crises ambientais e persegue cientistas e jornalistas que tentam alertar o público, diz grupo de direitos humanos
2006-11-22
Um grupo de defesa dos direitos humanos acusa o governo russo de perpetuar uma prática soviética, mantendo problemas do meio ambiente em segredo e privando o povo de informações sobre poluição, contaminação alimentar e radiação nuclear que ameaçam a saúde pública. Muitas pessoas que tentaram divulgar esses dados, incluindo jornalistas e cientistas, foram processados, alguns até mesmo acusados de espionagens, disse o grupo britânico Artigo 19, que defende a liberdade de expressão.
"Com alguns dos territórios mais poluídos da Terra, a obsessão russa, de estilo soviético, com o segredo da informação ambiental está se mostrando letal para o povo", afirma a diretora-executiva da Artigo 19, Agnes Callamard, em uma nota que acompanha o relatório The Forbidden Zone. Access to Environmental Information in Russia (Zona Proibida. Acesso a Informação Ambiental na Rússia).
"É uma desgraça que pessoas na Rússia adoeçam e morram enquanto as autoridades negam acesso a informação sobre questões como contaminação industrial e poluição radioativa", disse ela. O grupo de direitos humanos se baseia em pesquisas de grupos ambientalistas russos e internacionais. O texto é especialmente pesado no tratamento da indústria nuclear russa em particular, focalizando os efeitos de três grandes acidentes envolvendo a instalação nuclear de Mayak, nos Montes Urais, ocorridos entre 1948 e 1967.
O Artigo 19 alega que esses acidentes, e a radiação resultante, contaminaram Amis de 26.000 km2. O relatório afirma que a região sofre com altas taxas de câncer e defeitos de nascimento, bem como menor expectativa de vida. Alguns ambientalistas consideram Mayak uma das áreas mais contaminadas do planeta. Um porta-voz da Agência Nuclear Federal russa se disse incapaz de comentar, de imediato, o relatório.
(AP, 21/11/2006)
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