(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2006-11-22
Os dois últimos verões gaúchos têm sido lembrados como um pesadelo por quem leva a sério o cuidado com o consumo de água. Ainda está bem vivo na memória o conflito travado no ano passado entre homem e os efeitos dele mesmo sobre a natureza, especialmente no crítico mês de janeiro, em que a captação de água para as lavouras de arroz precisou ser temporariamente suspensa pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), quando o Rio Gravataí atingiu o 50 centímetros de profundidade em relação ao nível do mar, deixando em alerta a situação de abastecimento para consumo doméstico.

O que esperar para os próximos três meses? As principais empresas de abastecimento de água têm algum plano emergencial para garantir o líquido essencial nas torneiras da população rio-grandense? E qual a perspectiva de comportamento do tempo para amparar os preparativos de ações dessas empresas para mais um verão?

A reportagem do AmbienteJÁ ouviu o 8º Distrito de Meteorologia do Ministério da Agricultura, para entender como será o comportamento das chuvas, e os diretores de Operações da Corsan e do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) de Porto Alegre para saber o que os municípios abastecidos por essas empresas podem esperar quanto ao próximo trimestre – o que significa um prognóstico que atinge cerca de 1,3 milhão de habitantes na cidade de Porto Alegre, servida pelo órgão municipal, mais seis milhões de gaúchos (um terço dos habitantes do Estado) abastecidos pela estatal em 367 localidades.

Um bom começo
O mais recente boletim do 8º Distrito de Meteorologia (Disme), que foi lançado na sexta-feira passada (20/11), informa que na primeira quinzena deste mês “as precipitações ficaram dentro e acima do padrão climatológico na maior parte do Estado, com exceção do nordeste e norte do vale do Uruguai”. Isto indica um bom começo, mas não quer dizer que as condições serão mantidas sempre assim pelos próximos meses. Conforme o coordenador do 8º Disme, Solismar Damé Prestes, os prognósticos baseiam-se principalmente nas condições da temperatura da superfície do mar (TSM), obtidas pelos cientistas por meio de complexos cálculos e instrumentos. “Não podemos prever se vai ou não faltar água, até porque não conhecemos as condições dos reservatórios. Nosso papel é indicar as projeções da meteorologia para os próximos meses”, observa.

O boletim do 8º Disme explica que “devido às condições atuais da TSM do Oceano Pacífico Equatorial, são esperadas precipitações entre o padrão normal e acima no mês de dezembro em praticamente todo o Estado”. “Piorar não vai. No início deste ano, já vínhamos com um período de estiagem que perdurou ao longo de 2005. Neste ano, o modelo estatístico, que leva em conta as águas do Pacífico, mostra chuvas acima da média em novembro e dezembro, ou seja, um pouco acima da média, em até 50%”, indica Prestes.

Alerta para janeiro
Para quem pensa que o tempo da abundância de água voltou, um conselho: nada de gastar mais. Isto porque a situação muda em janeiro e fevereiro: “Devido ao possível resfriamento da TSM no Oceano Atlântico Subtropical, é esperada uma redução das precipitações principalmente na metade sul do Estado” – isto principalmente em janeiro de 2007, com a situação amenizando um pouco em fevereiro. O documento lança um aviso: “Alertamos para o manejo adequado dos recursos hídricos excedentes até o final do ano, pois há indicativos de redução das precipitações para os meses de janeiro e fevereiro”.

Os mapas do boletim do 8º Disme apresentam um quadro tranqüilo para o mês que vem, com chuvas um pouco acima do normal nas regiões norte e central do Estado, e normal na região sul. Em janeiro, porém, a situação muda bastante, e a expectativa é de que todo o território tenha precipitações abaixo do normal, com exceção de uma pequena área bem ao norte. A região da fronteira com o Uruguai aparece como a mais castigada, com previsão de chuvas abaixo do convencional, mais do que no restante do Estado. Em fevereiro, é o sul do Estado e a Região Metropolitana que ficam com chuvas abaixo da média. “O sul é a parte mais crítica. As médias de chuvas são menores também devido ao resfriamento do Oceano Atlântico. Recomendamos, então, que as pessoas economizem água e não pensem que só porque tende a chover um pouco mais no Estado, que essas chuvas sejam com a mesma intensidade. Ou seja, estão previstas mais chuvas, mas não com a mesma intensidade”, destaca Prestes.

Disputa e qualidade
Além de intensificar a cultura de consumo racional de água, as empresas de abastecimento enfrentam outros dois desafios: gerenciar bem o destino e garantir a qualidade. A disputa da água entre consumidores domésticos e outros – especialmente a agricultura, que absorve 85% das águas nas bacias dos rios dos Sinos e Gravataí – polariza boa parte dos esforços da Corsan. “Temos participado ativamente de todas as reuniões dos comitês de bacia do Estado. Na Região Metropolitana, nas bacias do Gravataí e do Sinos, temos o conflito pelo uso da água, e a Constituição Estadual manda que a prioridade seja para o abastecimento público”, relata o diretor de Operações da estatal, Jorge Accorsi.

Segundo ele, o sinal de alerta aparece quando o Gravataí, por exemplo, atinge um metro acima do nível do mar nos pontos de captação. “Aí nós começamos o bombeamento alternado, com três dias sim e dois não para a agricultura”, explica. “No ano passado, tivemos 50 centímetros, e a captação para os arrozeiros foi paralisada até que se normalizasse o quadro. E mesmo há poucos dias, tivemos o rio com 80 centímetros”, acrescenta.

Accorsi está otimista a partir dos dados da meteorologia para os próximos meses: “Temos previsão de que vai chover na média ou um pouco abaixo e de que, portanto, não haverá problemas de abastecimento. A situação é bem melhor do que no ano passado”. A qualidade da água, porém, é um fator de preocupação, ainda mais depois do acidente ocorrido no início de outubro no Rio dos Sinos. “Baixou muito o nível de oxigênio e tivemos que aumentar a dosagem de produtos químicos – cloro, sulfato de alumínio, permanganato de potássio e carvão ativado”, conta. “Tudo isto para manter os padrões dentro das exigências da Portaria 518/2004 (dispositivo do Ministério da Saúde que trata de normas de qualidade da água para consumo humano).

Química e mais química
Em Porto Alegre, o Dmae também está tranqüilo quanto à capacidade de fornecimento. “Temos oito estações de captação no Lago Guaíba, no qual a variação de volume não é tão expressiva, pois enquanto um rio se reduz em 20% a 30% de seu volume numa estiagem, o lago não sofre este problema, ele é formado por sete rios que o abastecem, sendo o Jacuí o de maior vazão”, afirma o diretor de Operações do Departamento, Valdir Flores. De acordo com ele, um ponto crítico de captação nos últimos meses é o localizado no bairro Navegantes, que abastece esse bairro e o São João, próximo à altura da Rua Câncio Gomes. “O porto foi deslocado para lá e, desde então, o movimento dos navios gera uma mexida no fundo do lago, causando alguma turbidez”, conta. Já quanto ao problemático ponto de captação junto ao clube Veleiros do Sul, no bairro Tristeza, Flores assinala que foi deslocado para 1,5 mil metros lago adentro, a fim de sair da área de influência do Arroio Cavalhada, onde há instalações do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP). “Ali, nosso maior problema era o esgoto doméstico”, diz.

Flores corrobora a avaliação de Accorsi com respeito à qualidade da água. “Este é o nosso maior problema, em especial a ocorrência de algas quando o tempo está seco por um período prolongado e há sol radiante”, explica. Nessas situações, a água apresenta odor e cor. O sulfato de alumínio é o produto tradicional utilizado para melhorar as condições do líquido, mas, conforme Flores, o Dmae introduziu, no ano passado, o policloreto de alumínio. “Trata-se de um processo piloto que estaremos utilizando neste verão”, informa. A diferença é que o sulfato de alumínio faz baixar o pH (potencial de hidrogênio ou índice de acidez/alcalinidade) da água para 5, enquanto que o pH dela nos pontos de captação é de mais ou menos 6. “Para equilibrar o pH, precisamos usar hidróxido de cálcio ou hidróxido de sódio”, afirma. O policloreto de alumínio, que está sendo introduzido, não altera o pH, além de dispensar o uso de corretores de acidez. Assim, mesmo sendo um produto importado e que exige instalações especiais para sua utilização, é considerado vantajoso pelo técnico. “Temos um estoque de policloreto de alumínio para uso neste verão. O resultado da experiência piloto foi muito bom, mas não queremos abandonar o uso de sulfato de alumínio porque é um produto nosso, produzido localmente. O policloreto de alumínio será nosso produto alternativo"” resume Flores.

Mudança climática
Se esta é uma expressão que preocupa países e faz ONGs marcharem contra o excesso de queima de combustíveis fósseis, ainda não está na agenda estratégica da Corsan, do Dmae e mesmo do 8º Disme. “Para nós ainda são especulações os efeitos da mudança climática no Estado. Sabemos que podem aumentar as anomalias e os eventos extremos, mas não temos nada específico quanto a este assunto. O que temos é a previsão climática para três meses", afirma Solismar Prestes. Ele assinala, porém, que as séries de dados mostram um aumento das temperaturas mínimas no Estado, nos últimos anos. “Se levarmos em conta os últimos 40 anos, vamos constatar que a média de chuvas até aumentou no Estado, situação bem diferente da que temos se considerarmos apenas os últimos três ou quatro anos”, ressalta o meteorologista.
(Por Cláudia Viegas, AmbienteJÁ, 22/11/2006)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -