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2006-11-22
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária não abre mão da fazenda Southal, em São Gabriel, para fins de reforma agrária. 'Para nós, não importa quem seja o proprietário da fazenda. Nosso objetivo é destinar o imóvel para a reforma agrária', enfatizou o superintendente regional do Incra, Mozart Dietrich, referindo-se ao anúncio da Aracruz Celulose, que quer comprar 1,2 mil hectares do imóvel. Hoje (22/11), integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) seguem a marcha em direção à fazenda. Eles são aguardados por cerca de 250 ruralistas, que formaram uma barreira para impedir a passagem dos colonos. A distância entre os dois grupos, ontem (21/11), era de apenas 500 metros, e o risco de confronto permanecia iminente.

O Incra agora busca reverter uma decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF/4), que, atendendo ao pedido da Farsul e do Sindicato Rural de Santana do Livramento, suspendeu as vistorias na fazenda Southal. Segundo Dietrich, o instituto já ingressou com recurso de embargos no TRF e poderá recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) antes mesmo de a corte regional se manifestar. 'O poder Judiciário está impedindo o Executivo de trabalhar', afirmou Dietrich.

O superintendente regional também questiona a transação. Segundo ele, a fazenda Southal foi notificada há duas semanas para fins de vistoria, o que impediria qualquer negócio pelo período de seis meses. 'A notificação também inibe o Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR), expedido pelo Incra, durante o mesmo período.'

Ruralistas não descartam conflito
O Sindicato Rural de São Gabriel, que lidera a frente dos produtores rurais, não afasta o risco de conflito com o MST na área da fazenda Southal. 'Nós nos mantemos firmes na decisão de não deixá-los passar. Nossa função é proteger a propriedade e o estado de direito', enfatizou o presidente da entidade, Tarso Teixeira, que comemorou o interesse da Aracruz pela fazenda. 'Irá gerar mais de mil empregos para a cidade, além de riqueza e tributos', comentou.

O Movimento dos Sem Terra não pretende recuar. Os sem-terra acreditam que, ao se instalarem junto à fazenda, garantirão a desapropriação do imóvel. 'Vamos continuar a nossa caminhada, pelo menos para achar um local mais adequado para ficar, onde haja água e sombra', informou Irma Ostroski, da coordenação estadual do Movimento. Segundo ela, há 70 crianças entre o grupo.

O prefeito de São Gabriel, Baltazar Balbo Teixeira, conversou com os dois grupos e monitora de longe a situação. 'Pedi para que fizessem tudo ao lado da lei, respeitando posições democraticamente.'

A Brigada Militar montou posto de vigilância. 'Entraremos em ação para evitar o confronto, apoiando a Polícia Rodoviária Federal', informou o comandante regional da Fronteira-Oeste, coronel Lauro Binsfeld. Em Santa Maria, o major João Vargas, subcomandante do Batalhão de Operações Especiais, informou que 150 homens estão em alerta.

Outro grupo de produtores rurais, de Arroio dos Ratos, Eldorado do Sul, Charqueadas, Guaíba, Barra do Ribeiro e imediações, está monitorando os cerca de 500 integrantes do MST acampados no cruzamento das rodovias RS 401 e BR 290, próximo ao trevo de acesso a Charqueadas. O objetivo dos ruralistas é impedir que o MST cumpra a ameaça de invadir a fazenda Dragão, em Eldorado do Sul, conforme foi anunciado dia 13, quando a marcha começou. Um dos líderes do MST, Mauro Cibulski, reafirmou ontem que pretendem lutar para que a área possa servir para assentamento de 72 famílias.
(Correio do Povo, 22/11/2006)
http://www.correiodopovo.com.br/edicaododia.asp

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