Stephan Rist defende diálogo entre as visões para o desenvolvimento sustentável
2006-11-22
A relação transdisciplinar deve favorecer o diálogo entre as visões holística, materialista e dualista, ou fragmentada. A afirmação é do suíço Stefan Rist, durante a abertura do VIII Seminário Estadual e VII Seminário Internacional sobre Agreocologia, que aconteceu na manhã desta terça-feira, 21, no Auditório Dante Barone, na Assembléia Legislativa, em Porto Alegre. Durante sua apresentação, o coordenador do Centro de Desenvolvimento e Meio Ambiente da Suíça apresentou os aspectos que fundamentam a necessidade de se trabalhar de forma global, reduzindo a intervenção humana sobre o ambiente.
“A crise do atual modelo produtivo deve ser encarada como uma oportunidade”, destacou Rist, ao defender a mudança nos modos de produção, distribuição e consumo. Para Rist, o desenvolvimento sustentável é um processo de aprendizagem que resulta na valorização social, cultural e ambiental. Rist também abordou a relação entre as diversidades cultural e biológica. “Dos 6.400 idiomas existentes, 60% estão ameaçados de desaparecer, ou seja, paralelo à destruição biológica, há a ameaça de destruição cultural”, diz Rist.
A disparidade na distribuição de riquezas é outro fenômeno citado pelo especialista suíço, ao defender uma distribuição mais equitativa dos recursos. “Para isso, é preciso mudar o modelo de tecnologias e conhecimentos, por ser reducionista, por ignorar a complexidade da intervenção humana nos processos naturais e por impor critérios éticos e morais mediante a eleição de tecnologias que não consideram o ambiente”.
TRANSVERSALIZAÇÃO
A transversalização de políticas públicas foi defendida pelo chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas, João Carlos Costa Gomes, ao anunciar para esta semana, em Belo Horizonte (MG), o lançamento do Marco Referencial para Pesquisa em Agreocologia na Embrapa, que acontece durante Congresso Brasileiro de Agroecologia, “consolidando a pesquisa dessa ciência como enfoque científico”. Para Costa Gomes, enquanto não houver uma sociedade mais justa, não atingiremos índices de sustentabilidade. “Para que tenhamos alimentos de qualidade, precisamos ter capacidade de resistência, só garantida através de práticas agreocológicas e de políticas públicas”.
O delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Nilton Pinho De Bem, defendeu a construção de uma sociedade sustentável a partir de tecnologias libertadoras e solidárias, que desenvolvam também as pessoas. “Nossa capacidade de destruição já acendeu a luz amarela”, salientou Nilton, ao citar os sinais evidentes, dados pela Terra, de destruição das espécies, de mudanças climáticas, de desmatamento e de uma agricultura focada no mercado, “de quem troca o futuro por um presente mais abastado”, comparou.
Para Nilton, a ação deve ocorrer não apenas na mudança de práticas produtivas, mas de distribuição de renda, por exemplo, que envolve questões legais, políticas e ideológicas, “mudando nossa forma de viver”. O delegado do MDA citou a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural que está sendo executada em todo o país, orientando ações como o Pronaf Agroecologia, que organiza e dá suporte aos agricultores familiares do país. Segundo ele, é preciso convencer com argumentos poderosos e com exemplos, “méritos garantidos na realização de eventos como este”.
CÓDIGOS E ZONEAMENTOS
O presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária e Abastecimento da Assemblléia Legislativa do RS, deputado estadual Elvino Bohn Gass (PT), destacou o trâmite de dois importantes projetos junto à Assembléia Legislativa. O primeiro, que institui o Código Estadual de Uso, Manejo e Conservação do Solo, já foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e deve ser aprovado pela Casa até o final deste ano. Já o segundo projeto, trata do zoneamento econômico e ecológico no Estado.
Bohn Gass também defendeu a superação de mitos, como o que só é possível atingir alta-produtividade com o uso de agroquímicos. “É possível produzir de forma sustentável, fazendo chegar à mesa do consumidor alimentos sadios”, reforçou o deputado, ao citar o outro mito que precisa ser superado, de que o produto agroecológico é caro. “Precisamos produzir de forma massiva, a partir de incentivos com políticas públicas que beneficiem o produtor e o consumidor”, destacou o parlamentar, ao afirmar que “a única luta que vale a pena é a luta pela vida”.
O processo de políticas públicas do Governo do Estado em benefício dos agricultores familiares foi ressaltado pelo secretário de Agricultura do Estado, Quintiliano Vieira, numa demonstração clara de estar zelando pela agroecologia. “A Emater/RS-Ascar, que é dos gaúchos, destaca em suas ações o trato com a sustentabilidade”, observou. Com sustentabilidade – disse - haverá geração de renda, mas também se dará proteção ambiental, que é a chave para as comunidades se desenvolverem. E finalizou com um elogio aos organizadores: “O futuro do Rio Grande do Sul se escreve com eventos como esse”.
"Entendemos que a riqueza deste evento se traduz na sua capacidade multiplicadora de conhecimentos e experiências no âmbito da Agroecologia", afirmou o diretor Técnico da Emater/RS-Ascar, Dirlei Mattos de Souza. Ele destacou o trabalho desenvolvido pela Emater/RS-Ascar, cuja missão é de proporcionar melhor qualidade de vida aos mais de 248 mil assistidos em 486 municípios gaúchos. "Estamos certos que sairemos do evento com mais ânimo para o enfrentamento do importante desafio, que é a construção de estilos de agriculturas e de desenvolvimento rural sustentáveis", reforçou o diretor
(Por Adriane Bertoglio Rodrigues, Ecoagência de Notícias, 21/11/2006)
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