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2006-11-21
O anúncio de que a Aracruz Celulose pretende comprar 1,2 mil hectares da fazenda Southal, em São Gabriel, levou, ontem (20/11) à noite, mais de cem produtores rurais a fazer barreira para evitar o ingresso de líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no município. Segundo o presidente do sindicato rural Tarso Teixeira, o acampamento foi montado a 40 quilômetros do Centro. A previsão é de que, até quarta-feira, mais de mil ruralistas se unam no local. Os integrantes do MST informam que estão marchando em direção à fazenda Southal. Acampados a 15 quilômetros de Rosário do Sul, eles querem a liberação da propriedade para a reforma agrária. 'Daria para assentar mais de 600 famílias. Vamos lutar para que se transforme num assentamento', enfatiza o integrante da coordenação estadual do movimento, Mauro Cibulski. Hoje, reunião entre a Aracruz, a Southal e a Justiça trata da compra. Questionado sobre o impacto do empreendimento, o prefeito de São Gabriel, Baltazar Teixeira, disse que a preocupação é manter a paz e atender às exigências legais.

A possibilidade de conflitos não intimida os empreendimentos internacionais que também apostam no potencial do florestamento do Brasil. Ontem, a necessidade de ampliar a produção e garantir maior competitividade através de investimentos externos foi reforçada na capital finlandesa, Helsinque, à comitiva de jornalistas. É o caso da Stora Enso, que pretende comprar 150 mil hectares no Rio Grande do Sul, dos quais 45 mil já em negociação, para viabilizar uma fábrica que produzirá 1,2 milhão de toneladas de celulose por ano na Fronteira-Oeste. Cem mil hectares serão destinados à plantação de eucalipto, que pode ser colhido em sete anos, enquanto os finlandeses precisam esperar até oito décadas para cortar árvores como a bétula. Otavio Pontes, vice-presidente da Divisão Latino-Americana da Stora Enso, disse que ainda não há definição do município que sediará a fábrica, mas a empresa de consultoria Jaako P'yry trabalha há dois meses na avaliação de fatores como acesso à água e estradas para o escoamento de matéria-prima e da produção.

Para quem teme os efeitos ambientais das florestas, Pertti Laine, vice-presidente da Federação das Indústrias Florestais Finlandesas, destaca o próprio exemplo da Finlândia, que a partir da década de 70, em razão da pressão dos ambientalistas e dos compradores, adotou rígidos padrões, que hoje garantem sustentabilidade e baixo impacto no meio ambiente. Laine assinala que a experiência finlandesa é aplicada em todos os novos investimentos das indústrias do país em outras regiões, até mesmo em razão das exigências dos clientes, que hoje só aceitam comprar produtos certificados ambientalmente.

Tradição de investir na floresta
A designação de 'povo da floresta', normalmente aplicada a populações como os indígenas amazônicos, pode muito bem ser usada para os 5,2 milhões de finlandeses. Afinal, 86% das terras agricultáveis deste pequeno país de 338 mil quilômetros quadrados são ocupadas por florestas. Do total da área do país, 69% pertencem às florestas e 10% aos 188 mil lagos, restando pouca área para as cidades ou para outras atividades do setor primário.

A predominância do verde das florestas de pinheiro e bétulas, principalmente, é absoluta na paisagem finlandesa, quebrada somente pelos lagos e pelo branco da neve nas regiões mais ao norte, localizadas em parte acima do Círculo Polar Ártico, ou no rigoroso inverno local. Os finlandeses, contudo, não reclamam da monotonia da paisagem e riem incrédulos ou estranham expressões como 'deserto verde' que vêm sendo usadas por alguns setores do ambientalismo ou dos militantes da reforma agrária para designar as plantações comerciais de florestas, que no Rio Grande do Sul utilizam plantas como o eucalipto.

Investir em florestas é uma tradição neste país, apesar de que árvores plantadas hoje só poderão ser cortadas num prazo de 60 a 80 anos. Mesmo que a população urbana seja de 67%, há aproximadamente 400 mil famílias proprietárias de florestas. Plantar florestas é um investimento familiar, que geralmente só poderá ser usufruído financeiramente pelos netos do aplicador.
(Correio do Povo, 21/11/2006)
http://www.correiodopovo.com.br/edicaododia.asp

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