No último dia 7 de novembro, a rádio livre Xibé 106,7FM ocupou a Câmara dos Vereadores do município amazonense de Tefé, instalando nela o seu estúdio. O objetivo foi estimular a participação presencial e em FM da população na audiência pública sobre o grave problema da energia elétrica na cidade. Ela é abastecida por uma termoelétrica altamente poluidora, "caindo aos pedaços", que deixa a cidade com apagões e racionamentos constantes, problema semelhante ao de outras cidades. Gerida pelo governo federal, revela o descaso com que tem sido tratado o interior do Amazonas.
A ação da rádio Xibé foi bem recebida, mas gerou incômodo em outros meios de comunicação presentes. Por iniciativa da Rádio Educação Rural de Tefé AM 1580hz, rádio com concessão comercial ligada à igreja Católica e nascida como parte do Movimento de Educação de Base nos anos 60, as diretorias das rádios comerciais da cidade contactaram a Anatel solicitando informações sobre a rádio livre e a fiscalização por parte do órgão. A rádio católica sustenta-se através de anunciantes e teme perder audiência.
O Centro de Estudos Superiores de Tefé, da Universidade do Estado do Amazonas, que convocou a audiência e deu a idéia para a rádio livre participar, defendeu-a dizendo que está ligada ao Programa Mídia e Cidadania de pesquisa e extensão universitária. Trata-se de um laboratório para novas formas de comunicação da população, e não de uma rádio convencional prevista em lei. Os membros do laboratório radiofônico Xibé explicam que ele é gerido por um coletivo autônomo e aberto a toda a população, o que contribui inclusive para democratizar a universidade.
Há varias décadas Tefé vem sofrendo com a falta e o racionamento na energia elétrica. Nos últimos dias a situação começou a ficar caótica, chegando uma parte da cidade a ficar cinco dias sem energia elétrica por falta de transformadores reserva.
Tendo em vista o problema e os prejuízos causados para a população o diretor do Centro de Estudos Superiores de Tefé (CEST), professor Wilson Acácio, resolveu fazer uma audiência publica para busca resposta junto à companhia energética do Amazonas para a falta de energia constante em Tefé.
A audiência pública foi realizada na Câmara de Vereadores e contou com a presença das principais autoridades da cidade, como o prefeito municipal, Sidonio Trindade, o presidente da Câmara de Vereadores, o diretor local da CEAM em Tefé, Manoel Hermes, e a juíza Ana Lorena, os quais fizeram parte da mesa. O ato contou também com a participação de dois diretores da CEAM central e uma advogada da empresa.
A audiência pública foi orientada pelo professor Wilson Acácio e transmitida pela rádio livre do CEST para toda a população, de forma integral. A população, revoltada, não pensou duas vez antes de ir para a audiência pública, que foi um sucesso, já que a Câmara de Vereadores ficou lotada.
Primeiramente os diretores da companhia energética do Amazonas fizeram sua defesa alegando falta de investimentos e de crescimento acelerado da cidade, de modo que a empresa não conseguiu acompanhar este crescimento. Logo após o pronunciamento da empresa, foi aberto espaço para os sindicatos. Estiveram presentes os sindicatos dos trabalhadores da saúde com graduação, dos pescadores e dos trabalhadores na educação. Todos os sindicatos se pronunciaram expondo suas dificuldades no período de falta de energia. Após todos se pronunciarem, foi aberto espaço para as instituições.
A Secretaria da Saúde reclamou da queima de um freezer devido a problemas provenientes da falta de energia, o que causou o estrago de mais de mil vacinas contra a poliomielite no centro médico da cidade antigo hospital São Miguel.
Vários professores se pronunciaram sobre o caso fazendo críticas e perguntas à CEAM. Logo após, foi aberto o espaço para a população e demais órgãos e entidades, com tempo determinado. Foi também aberto espaço aos empresários locais, mas ninguém compareceu .
O debate foi longo e se prolongou até 22h. Antes do encerramento, a banca foi tomada por universitários, que entregaram um presente aos diretores centrais da CEAM que ali estavam - o que eles chamaram de "kit CEAM", que era uma vela e uma caixa de fósforos. A saída estava cheia de universitários com velas acesas, eles cantavam: "Apaguem as velas, queremos energia", acompanhada da música de Cazuza, que foi reproduzida pela rádio livre Brasil.
A ata deste ato público e os demais documentos, tais como a lista de presença serão enviadas para a Anel,diretoria-geral da CEAM, Eletronorte, Eletrobras, Ministério de Minas e Energia, senadores do Estado do Amazonas, governador do Estado do Amazonas, Ministério Publico Federal, Ministério Público Estadual e mídias da cidade de Manaus.
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Centro de Mídia Independente, 09/11/2006)