Guatemala enfrenta problemas com mineração: liberação de água contaminada representa risco ambiental
2006-11-17
O cancelamento de um contrato de mineração na Guiana Francesa agravou a preocupação internacional com outro projeto levado adiante na Guatemala, com um grave custo para o povo local e o meio ambiente. O governo francês anunciou no mês passado que havia retirado a permissão para a companhia canadense Cambior procurar ouro na região amazônica de Kaw, na Guiana Francesa, um pequeno protetorado francês entre o Brasil e o Suriname com 200 mil habitantes. Paris havia concedido a Cambior autorização por 25 anos, em 2003, para extrair 34 toneladas de ouro. Mas diante da pressão de ambientalistas e dos moradores locais, o governo criou uma comissão em maio passado para analisar o impacto ambiental do projeto.
A comissão afirma em um relatório divulgado no dia 10 de outubro que o projeto não deveria ser realizado porque a liberação de água contaminada com cianureto das minas representa um risco ambiental inaceitável. A ministra de Meio Ambiente da França, Nelly Olin, afirmou que a Cambior havia sido informada da conclusão da comissão e que a empresa, finalmente, havia abandonado o projeto. No lugar onde estava previsto o projeto, foi decidida a criação de um parque nacional ambiental.
Mas desde 2003, agricultores e ativistas pelos direitos humanos na Guatemala lutam em vão contra um projeto muito semelhante da empresa canadense Glamis. Está companhia extrai ouro e prata no departamento de San Marcos desde outubro de 2005. A Cambior havia empregado o mesmo processo da Glamis para extrair metais preciosos. As rochas com ouro e prata são tratadas com vários produtos químicos, incluindo cianureto. As águas residuais são despejadas nos rios próximos.
A Igreja Católica, camponeses mayas, grupos ambientalistas e defensores dos direitos humanos guatemaltecos afirmam que a mina de San Marcos contamina os Rios Cuilco e Tzalá, fundamentais para o fornecimento de água na região. Mas em fevereiro deste ano, o governo expandiu o contrato para permitir a extração de zinco, mercúrio, chumbo, ferro e cobre na mesa área. “Há uma diferença se um governo é sensível ao meio ambiente, ao trabalho, aos direitos humanos e às preocupações em torno da saúde”, disse à IPS a ativista Íris Stolz, da organização cristã alemã Terra dos Homens.
“Os governos europeus são conscientes dos custos políticos de ignorar essas preocupações. Além disso, a capacidade da sociedade civil para exercer pressão sobre governos e instituições é de vital importância nesses casos”, acrescentou. Stolz coordena a campanha da Terra dos Homens contra o projeto da empresa mineira canadense na Guatemala. Uma pesquisa revelou que 95% da população local é contra o projeto. “Este resultado mostra a importância que as comunidades mayas dão à terra, à selva e à água para sua sobrevivência e seu desenvolvimento”, disse à IPS Mario Antonio Godinez, da organização ambientalista Ceiba.
Ulrike Bickel, especialista em desenvolvimento da organização católica Misereor, disse que “o governo guatemalteco não respeita os interesses de seu próprio povo e viola as convenções trabalhistas internacionais’. Bickel, que visitou o lugar e se entrevistou com moradores, legisladores e funcionários do governo da Guatemala, afirmou que a permissão para a empresa canadense está manchada por suspeitas de corrupção. “O legislador Alfredo de Leon nos disse que vários de seus colegas receberam subornos para apoiar a concessão”, disse à IPS. O escritório legal guatemalteco que representa a Glamis está ligado ao presidente do país, Oscar Berger.
O mandatário, um advogado que deixou a profissão ao assumir, em janeiro de 2004, era sócio do escritório de advocacia Berger, Sosa & Permueller. Um de seus principais sócios era Rodolfo Sosa de Leon, agora conselheiro legal da Glamis na Guatemala. A filha de Sosa é casada com o filho do presidente, Oscar Berger widmann. Ativistas destacam que o governo deu à Glamis concessões tributarias extraordinárias e livre acesso aos recursos hídricos. “A Glamis não paga nenhum imposto na Guatemala, e desfruta de total isenção até 2008”, afirmou Bickel. O Banco Mundial entregou US$ 45 milhões em créditos à companhia, cerca de um quinto do investimento total do projeto, de US$ 261 milhões.
(Por Julio Godoy, IPS, 16/11/2006)
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