Mais da metade do território português pode estar seco dentro de 20 anos
2006-11-17
Mais da metade do território português corre o risco de ficar deserto e seco nos próximos 20 anos. Hoje, cerca de um terço já está afetado pela desertificação, alerta o presidente da Liga para a Protecção da Natureza. Eugénio Sequeira avisa que as zonas já atingidas pela desertificação, quer ao nível dos solos, quer da população, são o Alentejo, o interior algarvio e toda a fronteira com Espanha, do Algarve a Trás-os-Montes.
"Portugal é um dos países onde a desertificação tem especial relevância e, se nada for feito nos próximos 20 anos, cerca de 66 por cento do território pode ficar deserto e seco", acentuou. Como causas deste cenário, que ameaça mais de metade do território nacional, o especialista indica o agravamento dos efeitos da seca, os incêndios florestais, o crescimento urbano indevido em terras com potencial agrícola e a degradação dos solos, em resultado dos "maus usos e da poluição".
Mas, independentemente desse cenário futuro, cerca de um terço do território já sofre "uma grave desertificação", da qual a seca, os incêndios florestais e o despovoamento do interior, devido à "concentração excessiva da economia e da população no litoral", são "expressões evidentes".
"A aridez dos solos já atinge quase todo o Alentejo e o interior algarvio", sublinhou, alertando mesmo para proporções "quase dramáticas" na margem esquerda do Guadiana, nos concelhos de Mértola, Castro Marim e Alcoutim. E "todo o interior junto à fronteira com Espanha, do Algarve a Trás-os-Montes, está a ficar deserto", com a perda de potencial biológico dos solos (desertificação física) e de população (desertificação humana).
Fixar população e conservar solos e água
Para inverter a tendência de desertificação, Eugénio Sequeira defende a adopção de medidas "concretas e eficazes" de fixação da população activa nos meios rurais, de conservação do solo e da água e de recuperação das áreas já afectadas. "Se nada for feito, Portugal deixará de ser competitivo a nível europeu, terá grandes dificuldades de abastecimento público de água e a qualidade de vida terá tendência para se degradar", vaticinou.
O especialista lamenta que "muito pouco tem sido feito" no âmbito do Programa de Acção Nacional de Combate à Desertificação, delineado em 1999. O programa "praticamente não tem verbas atribuídas", o que leva à "falta de apoios para projectos de investigação em Portugal" sobre a temática.
O presidente da Liga para a Protecção da Natureza falou à agência Lusa a propósito das terceiras Jornadas Ambientais da Liga, que decorrem entre amanhã e domingo no Cine-Teatro Municipal de Castro Verde, em Beja, que vão abordar o fenómeno da desertificação.
No Ano Internacional dos Desertos e da Desertificação, as terceiras Jornadas Ambientais de Castro Verde da LPN reúnem mais de 30 especialistas, nacionais e estrangeiros, para "aprofundar o conhecimento público e científico sobre o processo de desertificação".
(Ecosfera, 15/11/2006)
http://ecosfera.publico.pt/noticias2005/noticia5787.asp